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Igor Kashin nega ser um espião ao serviço de Moscovo ou ter feito chegar ao Kremelin dados de refugiados ucranianos. Em entrevista aos jornais Público e O Setubalense, o casal explica que a digitalização de passaportes e outros documentos é uma das exigências feitas pela plataforma criada pelo SEF para os pedidos de proteção temporária e que os computadores utilizados para o efeito eram da câmara municipal de Setúbal.
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O responsável da Associação dos Emigrantes de Leste (Edintsvo), e a mulher, Yulia Khashin, funcionária do município entretanto afastada de funções, são também acusados de ter questionado refugiados ucranianos sobre os familiares que ficaram na Ucrânia.
Igor Kashin explica que depois de ter sido contactado pela comunidade ucraniana ajudava no acolhimento a refugiados na condição de voluntário da associação, mas sempre na presença de um técnico da autarquia setubalense.
"Foram tiradas fotocópias do passaporte e da certidão de registo de proteção temporária, que foram juntas ao processo e guardadas na câmara. A digitalização é feita para carregar na plataforma do SEF, para fazer o registo de proteção temporária. Temos que digitalizar os documentos e anexar na plataforma", afirma Yulia Khashin.
Há duas semanas, uma refugiada ucraniana acolhida em Setúbal acusou Igor Kashin de ter feito perguntas sobre o marido que ficou a combater na Ucrânia. Este garante não se lembrar do caso em concreto, mas explica que o preenchimento dos dados implicava perguntas sobre o agregado familiar.
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"As questões colocadas pela plataforma do SEF, e não por nós, são o nome da mãe, nome do pai, local de nascimento, agregado familiar. Tem que ir tudo preenchido", justifica Yulia Khashin.
E em muitos casos eram os próprios refugiados que desabafaram e falavam dos familiares que tinham ficado na Ucrânia. A guerra é "uma tragédia", frisa Igor.
Yulia Kashina e Igor Kashin asseguram que só por uma vez a associação que dirigem foi ajudada pela Fundação Russkiy Mir, associada a propaganda russa, que dizem "ser "uma estrutura tipo o Instituto Camões, que promove a língua portuguesa no estrangeiro".
Não negam, no entanto, que mantinham contactos regulares com a embaixada russa em Portugal, tal como até com a Embaixada da Ucrânia. Igor relata mesmo dois encontros com o cônsul ucraniano, em 2002 e 2012, em Setúbal.
Yulia Kashina deixa ainda um lamento: o trabalho de 20 anos feito pela associação Edinstvo foi "destruído num dia".
"As pessoas perguntam "por que é um russo a ajudar os ucranianos'. Acho que não há mal nenhum, nós somos humanos, temos de dar apoio", reforça Igor.
Por tudo isto, os dois dizem-se injustiçados e de consciência tranquila enquanto esperam o desenrolar da investigação desencadeada depois da Polícia Judiciária ter feito buscas na sede da Edinstvo.