A defesa de José Sócrates interpôs um recurso para que Carlos Alexandre não seja o juiz de instrução no futuro.
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Conhecido o despacho do Ministério Público contra José Sócrates, João Araújo e Pedro Delille reafirmam que a prisão do ex-primeiro-ministro "serviu apenas para investigar".
Assumindo que não foi possível analisar ainda as quatro mil páginas do documento - o "gigantismo" é uma "nova dificuldade", - João Araújo destacou os pontos-chave para a defesa: Os novos factos apresentados neste despacho "são falsos" e "esta acusação é vazia de factos e de provas, oca".
"Não se tratou de buscar a verdade, antes de procurar a incriminação do nosso constituinte, enquanto o expunha a uma espécie de julgamento mediático, a uma violenta campanha de difamação e a uma condenação sumária na opinião pública", acusaram os advogados.
Para José Sócrates, este até é "um bom momento: a partir de hoje fica afixada a versão do Ministério Público, que não poderá mais ir ajustando a sua narrativa à medida que vão falindo as anteriores. Esta é a última".
Questionado sobre os mais de 34 milhões de euros que o Ministério Público garante que José Sócrates acumulou ilegalmente, João Araújo, desvaloriza.
"Ele recebeu 35 milhões em luvas? É uma opinião, uma afirmação, uma imputação do Ministério Público. Cabe-nos questionar o Ministério Público quanto ao fundamento dessa imputação e demonstrar que não é verdadeira."
Também o juiz Carlos Alexandre foi alvo de críticas. Os advogados dizem que não foi nem "isento" nem "competente" durante toda a fase de investigação da Operação Marquês.
"Não temos dúvidas de que Carlos Alexandre não poderá ser o juiz de instrução" a julgar, por exemplo, eventuais pedidos dos acusados para que se abra um período instrutório. Já foi, inclusive, interposto esta segunda-feira um recurso nesse sentido.
Não é avançado se haverá ou não, e quando, um pedido de abertura de instrução, até porque falta analisar em detalhe as muitas centenas de páginas do documento. "Deste amontoado de papel não restará folha sobre folha", garantem os advogados.
Já ao início da tarde, a defesa de José Sócrates garantiu, em comunicado, que irá "usar todos os meios do direito para derrotar "uma "acusação infundada, insensata e insubsistente".
O Ministério Público acusou esta terça-feira José Sócrates de 31 crimes de corrupção passiva de titular de cargo político, branqueamento de capitais, falsificação de documentos e três de fraude fiscal qualificada.
Mais que os 24 milhões de euros apontados inicialmente pelo comunicado do Ministério Público, a acusação da Operação Marquês, entretanto consultada pela TSF, garante que José Sócrates amealhou 34,143 milhões de euros entre 2006 e 2015.
No inquérito 'Operação Marquês' foram acusados 28 arguidos, 19 pessoas e nove empresas, num total de 164 crimes.