Ministra admite que "fragilidade" provocada por greve dos enfermeiros pode "reforçar" privados
Marta Temido diz haver motivos para "preocupações", mas sublinha: "Sensação de insegurança poderá não ser real." Ministra pede contenção verbal a sindicatos e ordens profissionais.
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A ministra da Saúde diz acreditar no cumprimento dos códigos deontológicos por parte dos profissionais, mas alerta contra as palavras excessivas que podem criar uma "sensação de insegurança" nos utentes. Marta Temido fala num "excesso verbal" que deve ser evitado.
"Por vezes há um excesso verbal na forma como as pessoas se exprimem que pode transparecer uma sensação de insegurança que poderá não ser real e que muitas vezes se destina a causar uma sensação de efeito que não é certamente aquilo que as pessoas pretendem, porque ultrapassa aquilo que é o objetivo de uma greve", disse, esta terça-feira, no parlamento, no encerramento das comemorações dos 20 anos da Ordem dos Médicos Dentistas.
Questionada sobre as palavras dos bastonários das ordens dos enfermeiros e dos médicos sobre a possibilidade de um aumento do número de mortes durante o período de greve dos enfermeiros às cirurgias, a ministra sublinha ainda: "Se estiverem em causa riscos deontológicos - e em termos deontológicos a primeira obrigação de um profissional de saúde é sempre o seu doente - as ordens profissionais garantirão que os doentes não são colocados em risco".
Aos jornalistas a ministra da Saúde transmitiu ainda outra ideia, a de que a greve pode estar a beneficiar o setor privado.
"Este tipo de movimento, que tem por objetivo a defesa de reivindicações dos trabalhadores, não pode dar azo a algo sobre o qual todos temos algumas reservas, a questão de reforçar o setor privado - que tem o seu espaço próprio -, em detrimento de uma fragilidade aparente quer foi criada sobre o serviço público", afirmou.
Sobre as cirurgias adiadas, a ministra da Saúde mantém a intenção de que sejam reagendadas partir de 1 de janeiro e admite que podem ser entidades privadas - ou outras com convenções com o Serviço Nacional de Saúde (SNS) - a realizar algumas das cirurgias até ao final do ano.
"Que ainda durante a greve algumas das cirurgias que não correspondem ao padrão se serviços mínimos possam ter alguma realização nos próprios hospitais ou que possam ser realizadas noutros hospitais, preferivelmente do SNS. mas, se não for possível, noutros com que tenha convenção", disse, assinalando: "Também com os privados".
No mesmo sentido, a ministra da Saúde admite que algumas das cirurgias com os privados podem ser realizadas por outras entidades, nomeadamente através da União de Misericórdias.
Aos jornalistas, Marta Temido confirmou ainda que os números que tem sobre a greve indicam cerca de 5 mil cirurgias adiadas até ao momento, destacando que as principais "preocupações" se prendem com áreas como pediatria, cirurgia vascular e ortopedia.