Tancos. Júlio Pereira diz que 'secretas' deviam ter sido informadas logo após o furto
Ex-secretário geral do SIRP considera que militares têm "sensibilidade diferente". Falta de condições de segurança no perímetro dos Paióis Nacionais pode ter ajudado ao furto.
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O juiz conselheiro Júlio Pereira, antigo secretário-geral do Sistema de Informações da República (SIRP), defendeu, esta terça-feira, na comissão parlamentar de inquérito sobre o furto de material militar em Tancos, que as autoridades militares deviam ter informado imediatamente os serviços de informações após o furto.
"Se eu tivesse conhecimento de um furto numa instalação militar, a primeira coisa que fazia era comunicar aos serviços de informações e às polícias - até porque desviar material daquele não é de um dia para o outro, é preciso uma certa logística -, no sentido de detetar qualquer coisa no território nacional que permitisse ajudar a descobrir isso", afirmou Júlio Pereira que, à data do furto, em junho de 2017, era secretário-geral do SIRP.
Segundo o juiz conselheiro, as autoridades militares "terão achado que seria necessário primeiro inventariar o que desapareceu", notando, nesse sentido, uma "sensibilidade diferente" por parte dos militares.
"Do meu ponto de vista, era isso que devia ter sido feito", sublinhou.
À semelhança do que havia dito no parlamento cerca de um mês após o furto, Júlio Pereira voltou a confirmar que tomou conhecimento do assalto no dia 29 de junho, através do Serviço de Informações de Segurança (SIS), e que este serviço apenas soube o que tinha acontecido pela comunicação social no mesmo dia.
Aos deputados, Júlio Pereira disse ainda que a falta de condições de segurança no perímetro dos Paióis Nacionais - como as falhas em equipamentos de videovigilância ou redes de segurança - pode ter ajudado à consumação do furto.
"É evidente que a partir do momento em que o sistema de videovigilância não funciona ou tem dificuldades, havendo também problemas no perímetro de proteção, isso dá uma ajuda", disse, acrescentando: "Não sei em que medida terá influenciado a decisão das pessoas que subtraíram o material de o fazerem, mas é uma vulnerabilidade, obviamente".
Na audição, o ex-secretário geral do SIRP adiantou ainda que não tem qualquer informação sobre se o roubo de material militar estaria ou não relacionado com o roubo de mais de meia centena de pistolas Glock do quartel-general da PSP. "Não tenho conhecimento", garantiu.
O antigo responsável pelas 'secretas' salientou também que no momento imediatamente após o furto os serviços de informações terão ficado convencidos de que o assalto a Tancos estaria relacionado com "crime organizado e tráfico de armas para zonas [internacionais] de conflito e que terá sido executado com "amadorismo".
"O tráfico de armas é um negócio de oportunidade, penso que houve dificuldades em fazer sair o material roubado, pelo que houve a devolução", justificou.
A comissão parlamentar de inquérito ao furto de material militar em Tancos tem previstas mais de 60 audições a personalidades e entidades e vai funcionar até 14 de junho, depois de o parlamento ter decidido prolongar os trabalhos por mais 90 dias.
A fase de audições de militares terminou na semana passada com a audição com o general Rovisco Duarte, chefe do Estado-Maior do Exército à data do furto, em junho de 2017.