A vergonha impede, muitas vezes, as vítimas de roubo de identidade de pedirem ajuda. Sentem que foram elas que deram ao atacante a "chave" para o ataque. A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima e a Polícia Judiciária lançam esta quinta-feira o Projecto Proteus, de apoio a quem teve a vida devassada por meios electrónicos.
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Talvez o tipo mais conhecido de furto de identidade seja o chamado "phishing". Trata-se do roubo de dados bancários através de um site "igual" ao do seu banco, mas falso. A partir daí, o atacante utiliza as suas passwords e códigos de acesso, para retirar dinheiro da sua conta.
A APAV sublinha que, nestes casos, são muito poucas as vítimas que avançam para uma denúncia e pedem ajuda, porque sentem, de alguma forma, que contribuíram para o que lhes aconteceu. "Percebem que foram elas próprias que entregaram ao criminoso os seus dados de acesso, porque não sabiam como identificar um site falso. Há este sentimento de vergonha: eu fiz algo de errado que permitiu aos criminosos atacarem-me".
A associação nota também um "crescimento exponencial" do número de casos de casais desavindos, em que um dos elementos rouba dados pessoais para maltratar o outro. "Utiliza a conta de e-mail ou o perfil de Facebook da vítima para divulgar conteúdos ofensivos, de natureza íntima, fotografias, vídeos" para fragilizar emocionalmente o outro.
E, muitas vezes, a vítima nem se apercebe do perigo que corre, já que são frequentes os casos em que fornece voluntariamente ao atacante as passwords pessoais.
Polícia Judiciária pede atenção a ofertas de emprego "baseadas em nada"
Não existem dados oficiais, mas também a PJ admite um aumento significativo dos casos de roubo de identidade, sobretudo através das redes sociais, nos últimos seis ou sete meses. Carlos Cabreiro, coordenador da investigação na área do crime informático, pede especial atenção a anúncios duvidosos, nomeadamente, ofertas de emprego cada vez mais presentes na internet.
Os anúncios que oferecem "dinheiro sem sair de casa", apenas como intermediário em transacções financeiras, pode indiciar que, "por detrás daquele anúncio, estão pessoas que tentam roubar a identidade".
Outra situação a ter em conta é a chamada "engenharia social", que transforma "qualquer pessoa mais descuidada" numa potencial vítima, alerta a Judiciária.
Desde 1992 que a PJ investiga casos de cibercrime. Em Agosto deste ano, foi criada a Unidade Nacional de Investigação do Crime Informático.