O último grande sismo em Portugal foi há 50 anos e até fez navios subir escadas

Com magnitude de 7.9, pôs cidades inteiras a fugir em "trajos menores" e até provocou um pequeno tsunami. Foi há 50 anos o último grande sismo a ser sentido em Portugal Continental.

Desde o terramoto que destruiu Lisboa em 1755 que em toda a Europa não se sentia um abalo tão forte. Com uma magnitude de 7.9 na escala de Richter, o sismo de 28 de fevereiro de 1969 atingiu Portugal de sul a norte.

O impacto foi maior no Algarve, já que o epicentro se registou a 80 quilómetros a sudoeste de Sagres, mas muitas foram as cidades que acordaram durante a madrugada, pelas 3h40, com a terra a tremer debaixo dos pés e o teto a desabar sobre a cabeça.

Houve 13 vítimas mortais em Portugal Continental, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera, duas como consequência direta do sismo e 11 indiretas.

Na capital, foi "um minuto que durou horas", nas palavras do Diário de Lisboa do dia seguinte. O jornal entrevistou um homem que fugiu para o telhado de sua casa completamente nu, enquanto no requintado hotel Ritz os hóspedes concentraram-se no hall de pijamas e robes - porventura um escândalo equivalente.

Na manchete do República podia também ler-se: "A terra tremeu - Tomadas de pânico, milhares de pessoas fugiram para a rua em trajos menores".

No Porto também houve momentos de "pânico e inarrável angústia" e em Alhos Vedros "parturiente e parteira fugiram para a rua no meio do trabalho de parto". Há notícia de dezenas de feridos, centenas de casas derrubadas, carros destruídos, cortes nas telecomunicações e no fornecimento de energia elétrica.

Só em Bensafrim, uma das muitas localidades do Algarve gravemente afetadas pela violência do abalo, caíram mais de 20 casas.

No mar, o abalo surpreendeu João Rocha, terceiro piloto da embarcação Manuel Alfredo, que navegava no Atlântico perto do epicentro do sismo. "Parecia que estávamos a andar por cima de rochas, que o navio subia escadas. Não recebendo ordens de cima parei as máquinas por julgar que encalháramos... Não sabia onde, mas dava a sensação de que o barco trepidava em cima de lajes", descreveu em declarações ao Diário de Lisboa.

Houve mesmo um pequeno tsunami, registado ao longo das costas portuguesas, espanholas e marroquinas. Parado no mar a meio da noite, o piloto João Rocha contou que "ondas descomunais envolveram o barco, submergindo a proa".

"Era uma água castanha e espessa. E logo depois do tremor o mar ficou picado, com uma ondulação miudinha na crista das ondas, que também não é habitual... Entretanto e durante horas, vagas anormalmente grandes balançaram o Manuel Alfredo. Eram ondas diferentes das usuais, mesmo as alterosas."

Ao primeiro abalo seguiram-se várias réplicas, sendo que a maior se fez sentir em Lisboa, na mesma noite, às 5h28. Entre 28 de fevereiro e 24 de março a estação sísmica da Serra do Pilar, no Porto, registou 47 réplicas.

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