No parlamento, o coronel Teixeira Correia admitiu que, apesar de obsoletos, os equipamentos de videovigilância eram incluídos nos planos de segurança. "Todos fomos afetados", diz sobre o furto de armas.
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O Coronel de Infantaria David Teixeira Correia, um dos cinco comandantes exonerados temporariamente na sequência do furto de material militar em Tancos, denunciou, esta quarta-feira, na comissão parlamentar de inquérito sobre as responsabilidades políticas no caso, a falta de condições de segurança junto dos Paióis Nacionais e de recursos humanos na própria unidade.
"A vedação estava oxidada e com locais onde a intrusão era potencialmente apetecível. As torres não ofereciam condições para que as mesmas pudessem ser ocupadas. Havia grandes lacunas estruturais", disse o oficial, acrescentando que, tal como a videovigilância, também os sensores "há muito que não estavam a funcionar" e que havia ainda "lacunas" na zona administrativa.
Segundo o militar, que comandava, desde 2015, a Unidade de Apoio do Quartel-general da Brigada de Reação Rápida - e que era uma das unidades responsáveis pela segurança dos paióis de Tancos -, antes do furto, em junho de 2017, a vegetação no local era "densa", o que dificultava as "linhas de observação", mas havia, no entanto, uma empresa a "colocar outro tipo de vedação, com outra fortificação" para reforçar a segurança junto dos paióis.
Na comissão de inquérito, o coronel de Infantaria Teixeira Correia assinalou a escassez generalizada de recursos humanos, dando como exemplo a unidade que comandava. "No total de 249 praças [definidos no plano de segurança], tínhamos 102 praças", disse, numa audição em que revelou ainda que a falta de recursos humanos levava a que não fossem cumpridas as necessidades explicitadas no quadro orgânico de 2016.
"Esse quadro dotou esta unidade com um pelotão de guarnição e segurança para os Paióis Nacionais de Tancos: um oficial, três sargentos e 21 praças. Este pelotão existe no quadro orgânico, agora, não está guarnecido", afirmou, acrescentando ainda que "quer as secções de guarnição e segurança do aeródromo militar de Tancos quer o pelotão de segurança para os paióis de Tancos estavam com zero praças".
Nesse sentido, por diversas vezes o oficial sublinhou a "taxa de esforço" dos militares, admitindo que a informação foi dada aos superiores hierárquicos. "Solicitei varias vezes que a minha unidade não integrasse a escala de empenhamento [na segurança dos Paióis Nacionais], porque os recursos eram escassos".
Pelo CDS-PP, o deputado António Carlos Monteiro, confrontou o militar com as necessidades resultantes da atualização do plano de segurança que terá sido feita, em janeiro de 2016, pela Unidade de Apoio Geral de Material do Exército. Aos deputados, o coronel Teixeira Correia confessou que, apesar de obsoletos, os equipamentos de videovigilância eram incluídos nos planos de segurança, como se estivessem em perfeitas condições.
"Continuava a integrar esses conjuntos de complementaridade que não estavam em condições", disse o oficial, que lembrou, inclusive, que no plano estava descrita a importância de "tirar a cassete" do sistema de videovigilância que, no caso, não existia.
Exonerações. "Passou a imagem de que fomos coadjuvantes"
Questionado pelos deputados sobre a exoneração temporária de que foi alvo após o furto do material militar, o oficial adiantou que o então chefe do Estado-Maior do Exército, o general Rovisco Duarte, lhe transmitiu a ideia de que uma exoneração serviria para mostrar que a estrutura militar seria "transparente", e acrescentando outra mensagem para a opinião pública e a investigação: "Podem mexer e remexer, porque ninguém estará lá para ofuscar".
"Tratou-se de uma questão de transparência, de estarmos fora do circuito para não prejudicar as averiguações que se queriam céleres", disse ainda o coronel Teixeira Correia que, lamentou, no entanto, a imagem que terá ficado mais presente na opinião pública após as exonerações de cinco comandantes: "Obviamente que para a opinião pública passou a imagem de que éramos uns coadjuvantes do que aconteceu".
A comissão parlamentar de inquérito ao furto de material militar em Tancos tem previstas audições a 63 personalidades e entidades. Decorre durante 180 dias, até maio de 2019, e é prorrogável por mais 90 dias, para que se possa chegar a conclusões.