Soou o alarme nos produtores de castanha de toda a terra fria transmontana. Há cerca de duas semanas foram detetados os primeiros focos nos soutos de Carrazedo de Montenegro, da pior praga dos castanheiros, a vespa asiática.
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A castanha, muitas vezes denominada como o ouro transmontano, é uma das principais fontes de sustento de muitas famílias da região. Trás-os-Montes é uma das principais zonas europeias da produção deste fruto. Anualmente são ali transacionados cerca de 80 milhões de euros.
Se esta praga se espalhar, como já aconteceu na Itália ou em França, poderá dizimar 70 a 80% dos soutos transmontanos. "Podemos estar perante uma calamidade em Trás-os-Montes", diz Filipe Pereira, engenheiro e técnico da Associação Regional dos agricultores das terras de Montenegro.
A vila e todas as aldeias da serra da Padrela, no concelho de Valpaços, formam uma das maiores matas de castanheiros do país. Ali, toda agente vive da castanha e "todos estão com medo do que poderá acontecer. Vai provocar uma diminuição de receitas e toda a economia vai-se ressentir. As pessoas aqui vivem da castanha e para a castanha", acrescenta o técnico.
O sentimento de receio é realçado por Hélder Pinto, produtor de castanha. "Isto é um investimento feito durante uma vida e de um momento para o outro vai tudo embora".
A vespa asiática, um pequeno inseto de cerca de três centímetros, apareceu em Portugal, o ano passado na zona de Barcelos. Agora chega à região transmontana.
Filipe Pereira acredita que veio com as árvores trazidas de Espanha e França. "Os focos têm todos a mesma origem. São castanheiros plantados este ano, durante o inverno e que vieram de França ou Espanha". Já foram identificados dez focos nesses castanheiros novos, na área de Montenegro, mas também já há relatos nos concelhos de Vinhais e Bragança.
A vespa avança para todos e a grande velocidade, acrescenta o engenheiro. "Se deixarmos eclodir a vespa, que vai eclodir, com certeza, até ao final de maio, irá espalhar-se por todos os castanheiros, grandes e pequenos". É por isso que os técnicos apelam aos produtores para que verifiquem as árvores e se encontrarem vestígios, que tirem os ramos para um saco plástico e os queimem de seguida.
E essa é só uma forma de retardar que a praga se espalhe, porque a única forma de erradicar a vespa é o combate com outro inseto, seu inimigo natural, e também originário da china. Os técnicos e associações pedem também a todos os produtores para não usarem nenhuma espécie de produtos químicos porque não resultam.
Entretanto, a câmara de Valpaços já reuniu com a maior parte dos produtores de castanha do concelho e prepara-se para criar brigadas de inspeção a todos os soutos.
De acordo com Amílcar Almeida, o presidente da autarquia, estas brigadas deverão ir para o terreno ainda durante esta semana. "Quero ver se ainda começam esta semana. Tenho uma reunião com a junta quinta-feira. Nós estamos alertados que esse trabalho tem que ser feito de uma forma permanente e contínua durante o mês de maio que é a altura do rebentamento dos castanheiros. Têm que ser vistoriados os soutos e quero acreditar que vamos ter que passar nos soutos duas ou três vezes, durante este mês".
Também a Câmara Municipal de Bragança de Bragança já enviou um documento para as entidades ligadas à gestão agrária como o Ministério da Agricultura, ICNF, Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte, entre outras, pedindo uma urgente intervenção no sentido de garantir meios e criar condições para combater rapidamente esta ameaça que pode por em causa um dos principais sustentos das famílias transmontanas.