António Luís é o mais magnético dos profissionais de restauração da Madeira. No seu restaurante A Vista d"António, no Caniço, assume o fogo com bravura, emprestando-lhe peças de gabarito e, ao mesmo tempo, mantém a sala animada. A sua coreografia é única no mundo, e o carinho que põe em cada mesa é desarmante.
Vive o vinho como poucos e há sempre enólogos, negociantes e produtores sentados à sua mesa. Escusado será dizer que a sua garrafeira é copiosas e diversificada. De resto, é um espaço climatizado que se vê de toda a sala. O lume e as brasas estão sempre bem vivos no centro da sala, e é quase comovente ver a destreza com que o nosso herói maneja em paralelo os diversos pratos. Sem descurar os tempos de cozedura de cada um, é uma espécie de telepatia. Servem-se salgadinhos, linguiça frita, e outros pequenos petiscos à laia de entrada, com que nos vamos deliciando. Estudamos e ensaiamos o cardápio, a que juntamos os especiais do dia e rapidamente decidimos o que vamos comer e beber. Há excelentes tiras de porco ibérico, que saem suculentas do fogo sacrificial. As doses são generosas, por isso há que ter alguma contenção no pedido. Também há excelentes plumas grelhadas, a que nos entregamos rendidos. E nunca é de menosprezar o que o chef António Luís chama frango baby, muito semelhante ao frango da Guia que se come no continente. Aqui, contudo, adquire contornos maravilhosos pela mestria do trabalho nas brasas. Por vezes há ventrecha de atum fresco, normalmente ao almoço de quinta. Trata-se da barriga do atum e é peça a que a casa sabe dar o devido brilho. Com batatas assadas a murro e uma boa salada, é o céu. Sou fã das peças maiores de bovino selecionadas pelo chef António, só ele sabe dar-lhes as voltas necessárias para as colocar no pináculo do sabor e prazer da mesa. É o caso da extraordinária costeleta de novilho na brasa, que com cerca de 700 gramas nos transporta ao paraíso. Também sai muito bem a picanha na brasa, António Luís só gosta de servir a mesas a partir de duas pessoas, porque assim planeia com mais rigor a economia do fogo. O entrecosto e a entremeada de porco vêm para a mesa transformados em preciosidades. Nesta altura, já provámos vinhos que o chef recomenda para cada peça, e já estamos com uma garrafa bebida. Momento mais que indicado para entrar na garrafeira e escolher diretamente os vinhos com que vamos completar a sequência. Não estamos longe do aeroporto e foram muitas as vezes que fui ao Vista d"António na derradeira refeição na Madeira, a viagem até corre melhor.