Vitória de Mikie Sherrill em Nova Jérsia, Abigail Spanberger na Virgínia, do redesenho democrata de círculos eleitorais na Califórnia, além do triunfo de Zohran Mamdani em Nova Iorque. Cartão amarelo a Trump um ano após a eleição presidencial
Foi o pior presente de aniversário de eleição presidencial que Donald Trump poderia ter. E não apenas pela vitória de Zohran Mamdani na sua - de ambos e de quase nove milhões, de todas as cores, credos e origens - Nova Iorque. Não foi apenas o triunfo daquele que o presidente dos EUA intitula perigoso comunista, que fará "Nova Iorque retroceder mil anos" com ideias que não resultaram em lado algum.
Trump perdeu em vários tabuleiros. A democrata Mikie Sherrill venceu no contíguo estado de Nova Jérsia a eleição para governadora, num estado onde vivem perto de oitenta mil portugueses e luso-descendentes. Sherrill, 53 anos, congressista estadual, é uma antiga oficial da marinha dos EUA, formada pela Georgetown em Washington DC e pela London School of Economics, em Londres. A mulher que já foi Procuradora federal derrotou o empresário republicano Jack Ciattarelli, empresário apoiado por Donald Trump e que já tinha sido derrotado em 2021 pelo incumbente Phil Murphy.
A noite foi de sonho para os democratas também na Virgínia, estado onde é habitual a corrida para governador ser ganha pela cor contrária à de quem está na Casa Branca. Assim foi. Presidente republicano, governação democrata na Virgínia. Abigail Spanberger, antiga dirigente da CIA (serviços secretos), tornou-se a primeira mulher eleita para o cargo de governador(a), num estado que terá penalizado os republicanos também porque nas suas zonas mais a norte (Hampton Roads) concentram muitos funcionários federais que trabalham em Washington DC e que, aos milhares, ficaram sem emprego devido à razia promovida por Elon Musk na máquina estatal ou estão sem salários devido ao shutdown (encerramento dos serviços e suspensão de pagamentos) do governo federal. Mais: os democratas conseguiram também eleger para vice-governadora a primeira mulher muçulmana a desempenhar o cargo, Ghazala Hashmi (já tinha sido a primeira mulher muçulmana eleita para senadora estadual).
Na Califórnia, a Proposta 50, apresentada pelo governador democrata Gavin Newsom, conseguiu um forte apoio (66,4%) para redesenhar círculos eleitorais a favor dos democratas (tal como os republicanos têm feito noutros estados, como no Texas), com provável impacto nas eleições de 2026, 2028 e 2030 (as regras voltam depois as que vigoravam até aqui).
Os democratas elegeram também a nova presidente da câmara de Detroit, no Michigan, Mary Sheffield, uma mulher negra.
Em Minneapolis, Jacob Frey (democrata) e Omar Fateh (republicano) receberam o maior número de votos como primeira escolha. Fateh causou impacto na cena política nacional este ano, sendo comparado à campanha democrata nova-iorquina, depois de o jornal The Minnesota Star Tribune o ter apelidado "Mamdani de Minneapolis". 35 anos, filho de imigrantes somalis, que se tornou o primeiro somali-americano eleito para o Senado estadual de Minnesota em 2020, desafiou o atual presidente Frey este ano, criticando o democrata relativamente moderado por não "atender às necessidades da sociedade em mudança". Foi o que valeu a Trump, numa noite que, de resto, foi um pesadelo para os republicanos e fez os democratas sentirem-se grandes outra vez. "Que noite para o Partido Democrata", disse o governador da Califórnia Gavin Newsom, acusando Trump de estar "submerso" em todas as dimensões.