
Zohran Mamdani
Angela Weiss/AFP
E o mais jovem dos últimos 135 anos. Vitória do democrata de 34 anos nas eleições para a câmara de Nova Iorque. De nada valeu a 'facada' de Trump no candidato republicano, ao apoiar, em última hora, Cuomo, o ex-governador, também democrata.
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Zohran Mamdani foi eleito presidente da câmara de Nova Iorque, coroando uma ascensão impressionante para o deputado estadual de 34 anos. Pela primeira vez, a 'cidade que nunca dorme' desperta para a realidade da babel de línguas, origens étnicas, culturais e religiosas da sua população de quase nove milhões de habitantes e elege um mayor muçulmano, asiático e jovem como não havia memória desde Hugh John Grant em 1889, com 31 anos. Zohran tem 34 e vive em Nova Iorque desde os sete anos de idade, depois de ter nascido em Kampala, capital do Uganda, filho de pais indianos (ele professor na Universidade de Columbia, ela cineasta).
Mamdani é também, segundo todas as análises, o presidente da câmara mais liberal da cidade em gerações. Numa claríssima vitória para a ala progressista - ou seja, à esquerda - do Partido Democrata, Mamdani derrotou o ex-governador Andrew Cuomo e o republicano Curtis Sliwa. Mamdani deve agora lidar com as intermináveis exigências da maior cidade dos Estados Unidos e cumprir promessas de campanha ambiciosas - que os céticos consideram irrealistas e Donald Trump classificou de 'lunáticas e comunistas', desde logo congelar rendas para quase dois milhões de novaiorquinos, após umas eleições em que o eleitorado elegeu a questão da habitação (a preços estratosféricos em Nova Iorque), como a principal preocupação. Mamdani quer taxar as grandes fortunas para pagar as suas políticas de habitação, mas vai encontrar oposição na governadora - curiosamente, também democrata, mas considerada mais moderada - Kathy Auchul.
Mamdani conquistou os nova-iorquinos numa eleição com a maior participação eleitoral dos últimos cinquenta anos. Como escreve Eric Lach na New Yorker, "numa altura em que figuras proeminentes do Partido Democrata parecem praticamente cúmplices dos abusos e ultrajes da era Trump, Mamdani ofereceu aos seus apoiantes uma mensagem de esperança imaculada. Enfatizou as semelhanças entre Trump, Cuomo e Adams (mayor que desistiu da recandidatura) - todas figuras forjadas na cena política nova-iorquina do século passado".
Grande parte de Nova Iorque ainda é fiel ao legado Andrew Cuomo no poder como governador, mas esse histórico provou ser apenas um obstáculo para Mamdani superar com distinção. «O que me falta em experiência, compenso com integridade - e o que lhe falta em integridade, você nunca poderá compensar com experiência», disse Mamdani a Cuomo num debate em outubro. O eleitorado terá feito leitura semelhante, a avaliar pelos resultados, especialmente entre os mais jovens.
Com uma agenda progressista que faz lembrar Bill Blasio (que liderou a cidade entre 2013 e ), Mamdani construiu a sua base de apoio no contacto de rua e porta-a-porta, bem como nas pequenas doações individuais multiplicadas por muitos milhares, em vez de gastar fortunas com anúncios nas principais cadeias de televisão. Vai ter agora de se dirigir aos poderosos e a uma eleite financeira que não o apoiou, nem mesmo aqueles que, sendo do círculo próximo de Barack Obama, preferiam opções políticas menos à esquerda. Dos notáveis do partido democrata, só praticamente o senador do Vermont Bernie Sanders e a congressita Alexandra Ocasio Cortez, apoiaram Mamdani.
Alvo de ataques pessoais, discurso do ódio, ameaças presidenciais de retenção de fundos federais e de apreogado envio da Guarda Nacional para Nova Iorque, Mamdani chegou a ser rotulado de apoiante dos atentados do 11 de setembro de 2001. Tinha então dez anos de idade.
Terá de se bater com o establ.ishment do seu próprio partido, agora com a oportunidade de se reconstruir e sair da desorientação caótica em que parece ter mergulhado após a derrota de kamala Harris para Donald Trump há precisamente um ano, peocurando, ao mesmo tempo, não cair numa radicalização à esquerda semelhante ao que os republicanos fizeram à direita.
O homem que assumiu que prenderia Benjamin Netanyahu se o primeiro-ministro israelita pisasse Nova Iorque e que é apoiante assumido da causa palestiniana, que prometeu creches e transportes gratuitos, vai ter, como prioridades da sua governação na maior cidade do país, a habitação, as acessibilidades, a criminalidade, a relação com o partido a nível nacional e a relação com um presidente que já disse que o "manda prender", se não colaborar com a ICE (Immigration and Customs Enforcement), a polícia da imigração que é o novo terror para os muitos milhares de habitantes da cidade que estão indocumentados.