Richard Zimler: eleições intercalares dos EUA pedem democratas mais "progressistas" e republicanos menos "fascistas"

André Rolo/Global Imagens (arquivo)
Para o escritor luso-americano, as vitórias democratas em estados com peso eleitoral deixam mensagens importantes. Na TSF, defende que o Partido Republicano deixou de ser um partido político para passar a ser "simplesmente um bando de apoiantes de um sociopata fascista"
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O escritor Richard Zimler entende que os resultados das eleições intercalares dos Estados Unidos da América (EUA) são um sinal de que as ideias de Donald Trump estão a falhar.
Ouvido pela TSF, o ex-jornalista luso-americano entende que as vitórias do Partido Democrata em Nova Iorque, Nova Jérsia e Virginia (bem como o referendo ganho pelos democratas na Califórnia) devem chamar a atenção do Partido Republicano.
"As políticas de Trump não estão a convencer em estados tradicionalmente [importantes para as eleições]. É uma nota para o Partido Republicano de que talvez deva afastar-se um pouco das posições super conservadoras e até fascistas [do Presidente], mas eu não tenho grande confiança no Partido Republicano, porque é um grupo de bajuladores que perdeu toda a sua credibilidade ao longo dos últimos oito anos", entende.
Richard Zimler acredita que a vitória de Zohran Mamdani em Nova Iorque passa também uma mensagem importante para os democratas. "O Partido Democrata apostou numa posição mais no centro durante muito tempo, tentando conseguir votantes independentes e até republicanos, mas a eleição em Nova Iorque provou que essa estratégia antiga é completamente errada, que o Partido Democrata tem de apostar agora em candidatos muito progressistas (por vezes de comunidades minoritárias, como os muçulmanos, os judeus ou imigrantes) e que apoiem realmente, por exemplo, os sindicatos e as pessoas pobres e de classe média-baixa", defende o escritor.
Zimler mora em Portugal há 35 anos e nasceu em Nova Iorque, mas não arrisca prever o futuro político dos EUA com base nestas eleições estaduais. "[Os Estados Unidos da América são] um país muito polarizado neste momento. Eu deixei de fazer previsões, porque já não reconheço o meu país. [Está] muito diferente, com um Presidente a tentar desmantelar a nossa democracia de 250 anos", acusa.
"Trump tem todo o apoio do Partido Republicano, então é difícil considerar e prever o que vai acontecer num país em que um dos grandes partidos já não é um partido político: é simplesmente um bando de apoiantes de um sociopata fascista", conclui.
O ex-jornalista luso-americano entende ainda que Donald Trump vai mesmo tentar cortar fundos federais a Nova Iorque, agora que Zohran Mamdani foi eleito, mas lembra que a decisão final será sempre tomada pelos tribunais.
Trump perdeu em vários tabuleiros, nas eleições intercalares dos EUA. A democrata Mickie Sherrill venceu em Nova Jérsia a eleição para governadora, num estado onde vivem perto de oitenta mil portugueses e luso-descendentes. Na Virgínia, a democrata Abigail Spamberger tornou-se na primeira mulher eleita para o cargo de governador, num estado onde é habitual a corrida para ser ganha pelo Partido Republicano.
Por fim, na Califórnia, a chamada "Proposta 50" (apresentada pelo governador Gavin Newson) conseguiu um apoio maioritário de 66,4% para redesenhar círculos eleitorais a favor do Partido Democrata.