Política

A "perda de capacidades" entre os efeitos "catastróficos" da IA: "Há muitas pessoas que já não escrevem bem à mão"

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No Fórum TSF, o investigador Arlindo Oliveira avisa que a sociedade está a ficar cada vez mais "preguiçosa". Já o filósofo José Gil explica que a IA cria "mundos paralelos que podem ser falsos" e as redes sociais amplificam, "tornando-os credíveis"

Na discussão que aconteceu esta quinta-feira no Fórum TSF resultou uma ideia consensual: é necessário que a União Europeia avance a passos largos para a regulação da Inteligência Artificial (IA) até porque esta ferramenta já tem mostrado os seus efeitos "catastróficos". O debate surgiu após o eurodeputado do PSD Paulo Cunha, numa entrevista ao programa Fontes Europeias da TSF, ter avisado que é preciso que a IA seja uma ferramenta útil e não um perigo.

No Fórum TSF, Arlindo Oliveira, professor do Instituto Superior Técnico e especialista em Inteligência Artificial, defendeu que a regulação é positiva para enquadrar as questões que envolvem risco e onde a IA não pode ter o maior controlo, como é o caso das câmaras de vigilância em espaços públicos ou na área da Saúde.

Questionado se há o perigo das máquinas substituírem as pessoas no pensamento, Arlindo Oliveira respondeu alertando para um outro "risco real": "Tornarmo-nos preguiçosos."

"Já se vê a acontecer (...) Nós já não fazemos, por exemplo, contas, porque usamos a calculadora. Muitas pessoas não escrevem bem à mão ou não estão muito familiarizadas, porque não usamos lápis nem canetas muitas vezes. Esse é um risco real de perdemos pelo menos algumas competências, por exemplo, de redação e análise de textos. Provavelmente não acontecerá com toda a gente, mas poderá acontecer com uma fração da população e preocupa-me mais, em particular, os jovens e os estudantes."

O também especialista nesta matéria, o professor da Universidade do Minho Paulo Cortez, falando no livro Is Google Making Us Stupid?, alertou igualmente para "a perda de capacidades" caso os humanos deleguem determinadas competências, em particular as cognitivas, na tecnologia. Há estudos, inclusive, que mostram a diferença de QI entre alunos que usam "sistematicamente e em demasia" IA e os que não usam.

Nesta linha, o filósofo José Gil defendeu que não é absurdo pensar que em diversas áreas os algoritmos passem a comandar e a dirigir as pessoas.

E alertou para uma relação "catastrófica" e "nefasta" entre a Inteligência Artificial - que "pode criar mundos paralelos que podem ser falsos" - e as redes sociais - que "os torna credíveis". Também a política vê consequências "desastrosas", exemplificando com o vídeo "fabricado" que mostrava o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, "num avião que defecava sobre a multidão dos manifestantes do No Kings".

Ana Sousa