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Lula da Silva avisa líderes mundiais que é momento de levar a ciência a sério

Lula da Silva, Presidente do Brasil André Coelho/EPA

"É hora de encarar a realidade e decidir se teremos ou não a coragem e a determinação necessárias para transformá-la", disse o Presidente do Brasil na sessão plenária da Cimeira do Clima que antecede a COP30

O Presidente brasileiro, Lula da Silva, avisou esta quinta-feira os líderes mundiais que a chegou "o momento de levar a sério os alertas da ciência" e mostrar coragem no combate às alterações climáticas.

"É hora de encarar a realidade e decidir se teremos ou não a coragem e a determinação necessárias para transformá-la", sublinhou o chefe de Estado brasileiro, na sessão plenária da Cimeira do Clima que antecede a Conferência das Nações Unidas para o Clima (COP30), na cidade amazónica brasileira de Belém.

Falando logo depois do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, Lula da Silva frisou: "O combate à mudança do clima deve estar no centro das decisões de cada governo, de cada empresa, de cada pessoa".

Num discurso no qual defendeu o multilateralismo, o Presidente brasileiro criticou o facto de "forças extremistas" fabricarem mentiras "para obter ganhos eleitorais" e aprisionarem "as gerações futuras a um modelo ultrapassado que perpetua disparidades sociais e económicas e degradação ambiental".

"A mudança do clima é resultado das mesmas dinâmicas que, ao longo de séculos, fraturaram nossas sociedades entre ricos e pobres e cindiram o mundo entre países desenvolvidos e em desenvolvimento", afirmou.

Denunciou ainda que os conflitos armados desviam a atenção e "drenam os recursos que deveriam ser canalizados para o enfrentamento do aquecimento global"

"Enquanto isso, a janela de oportunidade que temos para agir está se fechando rapidamente", avisou.

O líder brasileiro disse que os países devem acelerar a transição energética e proteger a natureza.

Lula da Silva falou ainda sobre os combustíveis fosseis, um tema delicado já que recentemente mostrou-se a favor da exploração de petróleo perto da foz do Amazonas.

"Estou convencido de que, apesar das nossas dificuldades e contradições, precisamos de mapas do caminho para, de forma justa e planejada, reverter o desmatamento, superar a dependência dos combustíveis fósseis e mobilizar os recursos necessários para esses objetivos", disse.

O chefe de Estado brasileiro enalteceu a realização pela primeira vez de uma COP na floresta mais importante do mundo: a Amazónia.

"No imaginário global, não há símbolo maior da causa ambiental do que a floresta amazónica (...) aqui habitam as milhares de espécies de plantas e animais que compõem o bioma mais diverso da Terra", disse.

O Brasil acolhe a partir de hoje cerca de 60 líderes mundiais para uma cimeira que quer ser o alicerce de uma COP30 "da implementação", mas com um enorme elefante na sala, a exploração de petróleo na Amazónia.

A cidade amazónica de Belém, fundada pelos portugueses a 12 de janeiro de 1616, reunirá entre hoje e sexta-feira delegações de 143 países, das quais pouco mais de um terço serão chefiadas pelos respetivos líderes nacionais, com a ausência confirmada dos três líderes dos países mais poluidores do mundo (China, Estados Unidos e Índia).

Convocado pelo Presidente brasileiro, Lula da Silva, o encontro é visto pela diplomacia brasileira como um marco central no processo de mobilização e diálogo internacional sobre a agenda climática, antecedendo a 30.ª Conferência das Partes (COP30) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre o Clima, de 10 a 21 de novembro, também em Belém.

O Governo brasileiro pretende apresentar-se em Belém como um líder da agenda climática, graças ao combate à desflorestação na Amazónia, mas várias organizações não-governamentais têm criticado a aposta contínua na extração de petróleo numa zona tão sensível como a costa amazónica e apresentaram uma ação na Justiça brasileira para anular a licença de pesquisa de petróleo à Petrobras numa área próxima à foz do rio Amazonas.

Lusa