
António Guterres foi o primeiro orador da cimeira, que conta com a presença de cerca de 60 chefes de Estado e de Governo e outros altos responsáveis dos 190 países representados
André Coelho/EPA
"Cada dólar destinado a subsidiar os combustíveis fósseis é um dólar desviado da nossa saúde e do nosso futuro comum", critica
Corpo do artigo
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, lamentou esta quinta-feira o facto de o mundo ter falhado a limitar o aquecimento global a 1,5 °C, a meta mais ambiciosa do Acordo de Paris.
"Nunca estivemos tão bem equipados" para o conseguir, acrescentou Guterres na abertura da cimeira de líderes mundiais sobre o clima (COP30), referindo-se ao crescimento das energias renováveis, como a eólica e a solar.
Ao abrir a sessão plenária da Cimeira do Clima de Belém, Guterres apelou a mais ambição climática e pediu aos países desenvolvidos que liderem o financiamento, ajudando a mobilizar os 1300 mil milhões de dólares (1130 milhões de euros) anuais em financiamento climático prometidos pelos signatários do Acordo de Paris para 2035.
"Os combustíveis fósseis continuam a receber enormes subsídios públicos. Muitas empresas obtêm lucros recorde à custa da devastação climática, gastando milhares de milhões em lóbis, enganando a opinião pública e travando o progresso. E demasiados líderes continuam reféns desses interesses instalados. Muitos países não dispõem dos recursos necessários para se adaptarem e estão excluídos da transição para a energia limpa", lamentou Guterres.
O secretário-geral da ONU instou as nações reunidas em Belém, capital do Pará (nordeste), a acertarem um plano de resposta "audaz e credível" para "fechar o fosso da ambição" entre os planos nacionais de redução de emissões e o objetivo de manter o aquecimento global abaixo dos 1,5 °C.
"Isto implica maximizar as energias renováveis e a eficiência energética, construir redes modernas e sistemas de armazenamento em larga escala, travar e inverter a desflorestação até 2030, reduzir as emissões de metano e definir calendários de eliminação progressiva do carvão a curto prazo", sublinhou o secretário-geral da ONU.
"Cada dólar destinado a subsidiar os combustíveis fósseis é um dólar desviado da nossa saúde e do nosso futuro comum", destacou, frisando que apostar em fontes de energia fóssil é "autodestrutivo para a humanidade e para as próprias economias".
Guterres acrescentou que os líderes mundiais reunidos por ocasião da COP30 devem apresentar uma "rota clara e credível" para atingir o financiamento necessário e que, nesse sentido, os países desenvolvidos devem "liderar" a mobilização desses recursos, "proporcionando um financiamento acessível e previsível, à escala acordada".
Por fim, defendeu que os países em desenvolvimento devem sair de Belém munidos de um "pacote de justiça climática" que garanta "equidade, dignidade e prosperidade".
António Guterres foi o primeiro orador da cimeira, que conta com a presença de cerca de 60 chefes de Estado e de Governo e outros altos responsáveis dos 190 países representados, segundo informou a agência Bloomberg.
Presentes na cimeira, em que Portugal está representado pelo primeiro-ministro Luís Montenegro, estão os presidentes do Brasil, Luís Inácio "Lula" da Silva, do Chile, Gabriel Boric, da Colômbia, Gustavo Petro, e da França, Emmanuel Macron, bem como os chefes dos executivos de Espanha, Pedro Sánchez, Alemanha, Friedrich Merz, e Reino Unido, Keir Starmer.
Entre as ausências mais notadas estão o presidente da China, Xi Jinping, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que optou por não participar numa conferência destinada a abordar a crise climática, a que tem considerado tratar-se de "uma fraude".
A retirada oficial dos Estados Unidos do Acordo de Paris será formalizada a 27 de janeiro de 2026, um ano depois de Trump ter tomado essa decisão pouco após chegar à Casa Branca.
