Sociedade

Reduzir o trânsito em Lisboa também é "dar mais autonomia às crianças nos transportes públicos"

Junta de Freguesia do Parque das Nações

Há três anos que a Carris e a Câmara de Lisboa promovem o "Amarelo" um serviço de transporte escolar gratuito. O projeto ensina as crianças a utilizar os transportes públicos, com o objetivo de reduzir o número de carros na cidade

Diz quem espera na paragem norte do Parque das Nações que já é normal o autocarro 26B da Carris chegar uns minutos atrasado. A culpa, em parte, é da fila de carros que se forma em frente a uma escola, perto da paragem.

Em Portugal, segundo dados dos censos de 2021, mais de metade das crianças entre os seis e os 18 anos vão para a escola de carro. Foi, precisamente, para mudar esta realidade que a Câmara de Lisboa e a Carris criaram o "Amarelo", um projeto que permite às crianças, entre os cinco e os 11 anos, irem de autocarro para a escola, acompanhados de um monitor.

Momentos antes de chegar o autocarro, Daniela Parente veste o colete amarelo. Hoje será ela a acompanhar o grupo de crianças pelo percurso de cerca de 40 minutos até à escola.

"Vou buscá-los à porta, digo-lhes para ativarem o passe, sento-os e acabo por interagir muito com eles, para não ficarem muito entediados", explica Daniela.

Pouco tempo depois do início da viagem, entram no autocarro Madalena Pires e o irmão Xavier. A monitora avisa que costumam ser "a alma da festa". Madalena admite que gosta de andar de autocarro para "falar" e "brincar ao jogo do sério". Já Xavier diz que gosta de "conviver com os amigos" que faz nestas viagens. São as brincadeiras das crianças que vão quebrando o silêncio dentro do autocarro.

"Tem sido uma experiência incrível, que proporciona autonomia, com segurança e permite às crianças irem para a escola sem que os pais tenham de levar com todo o trânsito de Lisboa", sublinha Bruno Albuquerque, pai de André, de seis anos, que começou a andar no Amarelo este ano letivo.

Bruno espera que, com esta experiência, o filho se habitue a utilizar os transportes públicos para se mover pela cidade. "Ele diz que é um tempo bom para se divertir com os amigos. No primeiro dia que ele veio, acabei por vir também, e ele até ficou um pouco chateado porque já gostava de ir sozinho", conta o pai entre risos.

Rita Castelo Branco, chefe do departamento de responsabilidade social da Carris, revela que o projeto já conta com cerca de 200 crianças inscritas, mas o objetivo é "continuar a crescer". Neste momento o Amarelo inclui 28 escolas, de 12 freguesias do concelho de Lisboa.

"O feedback normalmente é muito positivo. Os pais aderem com facilidade, acham interessante porque é um projeto de literacia para a mobilidade em transportes públicos para os públicos mais jovens. E depois há a questão prática> as crianças vêm bem acompanhadas e seguras até à escola. É uma coisa que qualquer pai pretende", destaca.

Segundo a responsável, os últimos estudos mostram que só a partir do secundário é que os estudantes optam por andar de transportes públicos sozinhos. "Uma questão cultural", remata Rita Castelo Branco, que acrescenta que "os pais gostam de acompanhar os filhos até à escola e o que fica mais prático é andar de carro ou ir a pé, mas é importante dar mais autonomia às crianças, também para reduzir o trânsito".

Rita Castelo Branco explica que este projeto tem a missão de tornar Lisboa uma cidade mais verde, "ao diminuir as emissões de carros".

O Amarelo é um projeto gratuito, basta inscrever-se no site da Carris ou da Câmara Municipal de Lisboa.

Cláudia Patrício Silva