Economia

Martins da Cruz diz que mercados só controlam por culpa dos políticos

Mercados Direitos Reservados

Martins da Cruz, diplomata e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, diz que os mercados só controlam por culpa dos políticos, devido à margem dada pela Alemanha e França.

Os mercados não ficaram sensibilizados nem mais confiantes com as promessas de Berlusconi de se demitir de primeiro-ministro de Itália e de não se recandidatar ao lugar.

A bolsa de Milão ainda não conseguiu subir à tona, mantém-se a negociar no "vermelho" com uma queda de mais de 4,3 por cento e os juros da dívida a dez anos mantêm a escalada acima dos sete por cento.

É esse o número que faz cair primeiros-ministros na Europa e obriga países a pedir ajuda externa. Olhando para esta tendência, afinal quem comanda a Europa os mercados ou os políticos?

Martins da Cruz, diplomata e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, considera que os mercados aproveitam oportunidades e que só controlam por culpa dos políticos, em especial pela margem que lhe é dada pela chanceler alemã e pelo presidente francês.

Os mercados acabam por ser uma boa desculpa para os políticos. António Martins da Cruz é claro na convicção: a agenda do eixo franco-alemão está a ditar a queda sucessiva de governos.

«A agenda dos dois pólos, Paris e Berlim, está ditar as condições na Europa, ou seja, já nem sequer temos um directório, temos a senhora Merkel e o senhor Sarkozy que governam a Europa segundo os ritmos das suas próprias agendas políticas, isto não pode ser, mas infelizmente é o que está a acontecer. Portanto, quando me pergunta se são os mercados ou a política eu digo no final é a política, os mercados são apenas um pretexto», considera.

Martins da Cruz salienta ainda que «os mercados aproveitam sempre o vazio da política».

«No fundo os mercados somos todos nós que quando temos poupanças damos instruções aos nossos bancos para as aplicarem da melhor maneira. Os mercados não são uma entidade que desceu de Marte ou do espaço», acrescenta.

O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros defende que os líderes europeus têm de olhar para o comportamento dos mercados como uma variante política importante e dá o exemplo do que aconteceu em Itália.

«É um dado político que tem que ser tido em consideração e não era até agora. Quando a Itália chega a 6,9, o senhor Berlusconi demite-se. Independentemente de gostarmos dele ou não, ele é o primeiro-ministro há mais tempo em Itália desde 1945 e vai abaixo não pelas controvérsias pessoais, mas pela incidência dos mercados na política», afirma.

Martins da Cruz defende que enquanto Merkel e Sarkozy condicionarem a política europeia às agendas internas a União vai continuar a fragmentar-se e a assitir à incidência oportunista dos mercados.

Redação