Num clima de contestação e incerteza, 40 milhões de egípcios começam, esta segunda-feira, a escolher os deputados da câmara baixa. Na corrida estão mais de 40 partidos e quatro coligações.
Ao início da manhã, amontoavam-se nas ruas do Cairo os egípcios que querem escolher o novo governo. A agência Reuters conta que assim que as urnas abriram já havia uma fila com pelo menos mil pessoas que dava a volta a um quarteirão.
São cerca de 40 milhões de eleitores que têm de escolher entre mais de dez mil candidatos de cerca de 50 partidos políticos, um processo que irá arrastar-se por cerca de quatro meses.
Numa primeira fase, que arranca esta segunda-feira, têm que eleger os 498 deputados da Assembleia do Povo e depois, a partir do final de Janeiro e até 11 de Março escolhem os senadores da câmara alta consultiva.
A primeira fase da votação, que arrancou às 6:00 horas no Cairo e na cidade de Alexandria, vai realizar-se em três zonas eleitorais distintas, cada uma abrangendo nove províncias.
Trata-se de um sistema muito complexo. Dois terços dos deputados são eleitos por um sistema proporcional com base numa lista partidária. Os outros são escolhidos individualmente, em função dos candidatos mais votados.
Para muitos egípcios, esta é a primeira vez que vão de forma livre às urnas. A maior parte não sabe onde deve votar nem quem vai escolher.
Muitos queixam-se de que as ruas foram ocupadas por centenas de cartazes confusos que em nada ajudam quem se vê confrontado, pela primeira vez, com umas eleições.
Os egípcios que vivem no estrangeiro podem votar pela primeira vez nestas eleições.
A instabilidade e a violência registadas nos últimos dias ainda não deram tréguas. Esta noite um gasoduto egípcio que fornece Israel e a Jordânia foi alvo de uma nova explosão.
O português Pedro Barney, treinador que trabalha com Manuel José no clube Al Ali, no Cairo, disse esta segunda-feira à TSF que tem sentido um aumento da tensão na cidade nas duas últimas semanas, por isso mudou as rotinas quotidianas.
Raul Braga Pires, professor da universidade marroquina de Rabat e investigador do Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto, explicou à TSF que nada do que tem acontecido no Egipto, quer do lado dos militares, quer do lado dos opositores, foi «espontâneo», até porque alguns elementos do Movimento 6 de Abril têm recebido treino na Sérvia.
Para este investigador, os militares vão resistir até abrir mão do poder.