"Não aceito o silêncio dos clubes e das organizações" perante suspeitas de tráfico de seres humanos
Joaquim Evangelista defende que é preciso punir "severamente" quem está no futebol para "práticas ilegais, para ganhar dinheiro e para fazer negócio".
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O presidente do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF), Joaquim Evangelista, não aceita o "silêncio dos clubes e das organizações desportivas" perante casos como o que levou à realização de buscas na residência do presidente da Assembleia Geral da Liga, Mário Costa, no âmbito de uma investigação do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras em que em causa estarão suspeitas de tráfico de seres humanos.
Assumidamente "preocupado" com o caso, Evangelista defende na TSF que é preciso "denunciar" quem se aproveita da posição no futebol para "práticas ilegais, para ganhar dinheiro e para fazer negócio".
"Estas pessoas estão a mais, estas pessoas estão sinalizadas e, de facto, respeitando aqui o princípio da inocência, mas se estiverem ligadas ao futebol e se se aproveitam da sua posição para fazer este tipo de negócios, têm de ser severamente punidas. Isto não é aceitável", avisa o líder do sindicato, desafiando as entidades do futebol a pronunciar-se.
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"O que eu também não aceito é que ninguém do futebol fique incomodado com isto. O desporto não é isto. O desporto é formar jovens, é dar-lhes a possibilidade de praticarem futebol com os amigos. Depois se puderem ser futebolistas muito bem, seguir uma profissão melhor ainda, mas não nestas condições de oportunismo, de ganância, mercantilista, não é? Eu não aceito o silêncio dos clubes e das organizações desportivas, sempre com o argumento do princípio da inocência, à justiça o que é da justiça, ao futebol o que é do futebol. Já chega de hipocrisia, temos de nos pronunciar na defesa dos jovens e de uma sociedade diferente que queremos para o futuro", apela.
O sindicato, revela, tem alertado o Governo acerca do tema junto do Secretário de Estado, garante Joaquim Evangelista, e "foi criado um grupo de trabalho para o efeito envolvendo o Ministério dos Negócios Estrangeiros, a Segurança Social, a Justiça e a Federação".
Segundo o líder do SJPF, "houve uma reunião e depois não aconteceu mais nada", tendo ficado pelo caminho o principal objetivo do organismo que representa os jogadores: garantir uma "uma resposta articulada".
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"Era aquilo que nós desejávamos, era que houvesse uma articulação entre as instituições públicas e privadas, para que quando os jovens nos pedem auxílio saibamos dar-lhes uma resposta e não serem obrigados a encontrar uma resposta por si mesmos por não terem condições para o fazer", lamenta.
Além da casa de Mário Costa, também uma academia de futebol em Riba D'Ave, concelho de Famalicão, distrito de Braga, foi alvo de buscas. Em comunicado, o SEF confirmou que estava "a decorrer uma operação, na zona do Grande Porto, para cumprimento de vários mandados de busca".
"O SEF não pode, para já, adiantar qualquer outro tipo de informação, dado que o processo se encontra em segredo de justiça. A seu tempo, serão divulgados mais detalhes. Para a operação desta manhã, o SEF empenhou um efetivo de 50 elementos", lia-se ainda no comunicado do SEF.
Também a Bsports, que se descreve como "uma academia de alto rendimento", confirmou, em comunicado, as buscas suas instalações em Riba d'Ave, esclarecendo que "no âmbito das mesmas prestou toda a cooperação com as entidades competentes, mais tendo manifestado total disponibilidade para fornecer os esclarecimentos e informações que sejam solicitados no âmbito do processo em curso".
"No estrito respeito pelo segredo de justiça existente no âmbito da investigação em curso, a Bsports não fará, por ora, mais qualquer comentário sobre esta matéria", acrescenta a nota, em que a entidade se diz "certa e confiante de que se apurará a verdade dos factos, que revelará que nenhum ilícito criminal foi praticado pelos seus representantes ou colaboradores e que só por engano ou denúncia caluniosa alguém poderá ter pensado o contrário".