Ministério Público critica PSP por ter considerado Mustafá um elemento "pacificador" apesar das condenações e proibição de entrar em estádios.
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A acusação que pede o julgamento dos 44 arguidos no processo do ataque à academia de Alcochete critica a PSP por ter considerado que Nuno Mendes era um elemento pacificador da claque, apesar de já ter sido condenado três vezes e proibido de frequentar recintos desportivos.
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No documento lido pela TSF o Ministério Público faz o historial da ascensão de Mustafá (alcunha de Nuno Mendes) à liderança da claque do Sporting, classificando mesmo como "insólita" uma posição da Unidade Metropolitana de Informações Desportivas da PSP que facilitou que este chegasse ao cargo.
A acusação sublinha que em 2015 o chamado Grupo Organizado de Adeptos (GOA) da Juve Leo estava sem liderança e à beira de ser tomado por grupos ligados à extrema-direita (Hell Angels e Portugal Hammerskins).
Nessa mesma altura Nuno Mendes foi detido no âmbito de um outro processo-crime por crimes de associação criminosa, roubo e sequestro, mas é libertado passando a aguardar julgamento em liberdade.
PSP disse que Mustafá era "pacificador"
A libertação foi pedida pelo próprio argumentando que a sua presença era fundamental na Juve Leo e aceite pelo juiz e pelo Ministério Público com os argumentos de que o arguido estava arrependido dos crimes imputados e que existiam condições de segurança para o libertar.
Agora, na acusação ao que aconteceu em maio de 2018 em Alcochete, a procuradora do Ministério Público sublinha que a posição anterior foi "secundada pelo Núcleo de Informações Policiais da PSP, considerando-se aí que o arguido Nuno Mendes, apesar de ter sido preso pelos crimes de associação criminosa, roubo e sequestro, era um elemento respeitado pela larga maioria de adeptos da Juve Leo".
A PSP chegou mesmo a afirmar, diz o MP citando um documento da polícia, que Mendes era um "fator pacificador no seio do GOA e contribuía para a diminuição drástica de utilização de artefactos pirotécnicos na bancada do Estádio José de Alvalade e em todas as bancadas onde estão adeptos do Sporting afetos à Juve Leo".
A ascensão de Mustafá na Juve Leo
Foi na sequência desta libertação que "aproveitando-se da situação de se encontrar em liberdade e de saber que a Unidade Metropolitana de Informações Desportivas da PSP considerava que o mesmo era um elemento pacificador da claque, o arguido Nuno Mendes, bem como outros elementos que o apoiavam, apresentam-se em 2016 numa lista única à liderança da Juve Leo".
Ao contrário da pacificação prevista pela polícia, o resultado terá sido o contrário, com a procuradora Cândida Vilar a dizer agora que Mustafá orientava os membros da Juve Leo para praticarem "agressões dentro e fora do estádio, introduzir tochas e outros artefactos pirotécnicos no interior dos estádios e lançá-los quando Nuno Mendes, através de diretivas, determinava à prática dessas ações".
O MP recorda que a PSP registou 15 deflagrações ou posse de artefactos pirotécnicos durante a época de 2017/18 e 17 processos crimes a elementos da Juventude Leonina, "situação há muito conhecida pela PSP, tanto mais que ao seu presidente eleito, Nuno Mendes, foi aplicada a medida de coação de proibição de entrada em recintos desportivos, medida que foi levantada em janeiro de 2013 por estarem esgotados os prazos das medidas de coação, mostrando-se quase insólita a informação posteriormente prestada em 2015".
Mustafá fez o contrário da previsão da PSP
Fazendo a lista do registo criminal de Nuno Mendes com três condenações, o MP conclui que "com a eleição de Nuno Mendes a Juve Leo passou a ser o suporte institucional que o grupo mais radical de adeptos do Sporting, entre os quais os arguidos, decidiram utilizar para viabilizar o prosseguimento das atividades criminosas a que se propunham e que se traduziam na prática de agressões e outras ações violentas", incluindo a elementos das forças de segurança.
Fazendo a lista de vários casos de violência, a acusação resume dizendo que "todos os arguidos perfilham ideais totalmente incompatíveis com o espírito desportivo, exaltam à violência no desporto e atuaram sempre integrados na Juve Leo, liderada por Nuno Mendes, com o propósito de concretizarem ações violentas contra número indeterminado de adeptos de clubes rivais, geralmente na via pública, provocando situações de guerrilha urbana, ou seja, ataques em grupo, criando assim um clima de terror e pânico nos dias dos jogos".
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