Ex-administrador do Banif revelou que, seis meses antes da venda ao Santander, o banco espanhol propôs comprar a instituição nacional nos termos exatos que viriam a verificar-se em dezembro.
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António Varela, que esteve no Banif entre 2013 e 2014 enquanto administrador nomeado pelo Estado (já depois da injeção de 1,1 mil milhões de euros públicos) considera que, em 2012, o Banif era um banco "muito mau, um banco péssimo", com uma "estratégia completamente errada". "Enquanto os outros bancos diminuíam, o Banif aumentou a dimensão para o dobro nos anos anteriores", afirmou na Comissão Parlamentar de Inquérito à resolução do banco.
"Seria muito difícil" que a história terminasse bem, argumentou, acrescentando: "mas não era preciso ter terminado tão mal". O desfecho foi "desastroso" sobretudo porque a Direção-Geral de Concorrência (DG Comp) e o Banco Central Europeu (BCE) "estiveram completamente empenhados em não terem qualquer responsabilidade relativa a uma eventual evolução do Banif pós-2015". O antigo administrador do Banif, que depois transitou para o Banco de Portugal, de onde sairia em conflito com Carlos Costa, recordou que "no dia 1 de janeiro entrava em vigor o novo Mecanismo Único de Resolução, que tinha como consequência que uma resolução teria de ser lidada pelo BCE e pelo Conselho Único de Supervisão". "Também para a DG Comp era evidente que uma negativa que quisesse dar ao processo seria muito mais difícil de dar em 2016 do que em 2015", afirmou.
A pressa das autoridades europeias em resolver o problema do Banif, que culminou, em Dezembro, numa resolução-relâmpago em simultâneo com a venda ao Santander, teve também motivos mais prosaicos: "As pessoas nas instituições europeias têm o hábito de ter férias prolongadas no Natal e estavam muito empenhadas nisso", disse.
Santander quis em Junho a mesma fatia do Banif que acabaria por comprar em Dezembro
Em Junho de 2015 o Santander abordou António Varela (então administrador do Banco de Portugal com o pelouro da supervisão) demonstrando um "interesse hipotético" em comprar parte do Banif. "A parte boa", revelou, "que acabaria por comprar meses depois".
Demissão do Banco de Portugal "pessoal" porque "esforços não estavam a dar resultado"
Varela saiu com estrondo do Banco de Portugal, argumentando com uma "falta de identificação" com a política conduzida por Carlos Costa à frente do regulador. Questionado sobre os motivos dessa demissão, o ex-administrador com o pelouro da supervisão prudencial do sistema financeiro disse que essa foi uma decisão "pessoal". "Quando chegamos à conclusão que aquilo que estamos a dar não está a ter o resultado suficiente, tiramos conclusões", afirmou.
Ações do Banif? "Nunca tive". E a poupança que lá tinha, perdeu. "Paciência".
Varela garantiu que nunca teve ações do Banif. "Tive, isso sim, ações preferenciais de uma subsidiária do Banif, e isso é uma forma de dívida subordinada". E esse investimento foi reduzido a zero: "perdi esse investimento e perdi as poupanças que lá tinha". "Podia ter trocado as obrigações por ações e vendido, mas decidi não o fazer porque entendi que isso era incompatível para um administrador do Estado", lamentou, acrescentando que "mantive as obrigações até ao fim". Os mesmos motivos levaram a que não se visse livre dos títulos quando foi para o Banco de Portugal. A poupança que lá tinha depositada, que manteve "como forma de apoio ao Banif", também foi perdida porque os ex-administradores dos bancos não estão abrangidos pelo Fundo de Garantia de Depósitos. "Olhe, perdi", afirmou com um encolher de ombros. "Devo ter perdido um bocadinho mais do que o que ganhei no Banif enquanto lá estive". "Paciência", lamentou, ironizando: "e o pior é que não se pode abater no IRS".