O BCP chumbou nos testes de stress do BCE no cenário mais adverso e com base em dados de 31 de dezembro do ano passado. A história poderia, no entanto, ter sido diferente. Ao que a TSF apurou, o BCE foi intransigente e não aceitou alguns dos argumentos do BCP e do Banco de Portugal.
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As últimas três semanas foram de negociação dura entre BCP e Banco de Portugal, de um lado, e BCE do outro.
Houve várias reuniões, em Lisboa e Frankfurt e uma longa troca de argumentos, considerada como positiva por algumas fontes, mas que acabou com o BCE a fechar-se numa posição irredutível.
O BCP queria ver considerada, como reacção ao cenário mais adverso, a hipótese de venda da operação na Polónia. Ao que a TSF conseguiu confirmar junto de diversas fontes, essa solução não foi aceite pelo BCE, apesar de estar prevista e negociada com Bruxelas, no plano estratégico do banco. Seria uma espécie de último recurso em caso de não pagamento da ajuda do Estado para a recapitalização, em 2012.
Note-se que o BCP reembolsou 1.850 milhões este ano e conta pagar o que resta (750 milhões) até ao início de 2016. Este dado, em conjunto com outras medidas aplicadas em 2014 como o aumento de capital já realizado ou a venda de activos, deixa o BCP fora do radar do BCE. Aliás,o banco liderado por Nuno Amado, faz parte do conjunto de instituições que, apesar de uma nota negativa nestes testes de stress, não vão ser obrigados a apresentar novas medidas de mitigação.
Nos testes de stress do BCE, a venda do Millenium Bank Polónia seria suficiente para trazer o rácio de capital dos 3,5% para os 5,5% exigidos como mínimo no cenário macro mais adverso. Por outras palavras, o BCP poderia ter evitado o chumbo. Fontes ligadas ao banco sublinham que a venda da operação na Polónia nunca foi equacionada faendo apenas parte desse plano de contingência.
Fontes ligadas ao processo confirmam que essa operação, que permitia um ganho de mais de 200 pontos-base no rácio de capital do BCP, chegou a receber luz verde da equipa de supervisão do BCE que trabalhou diretamente com a banca portuguesa nestes testes, mas acabou chumbada em Frankfurt, pela cúpula do Banco Central Europeu. Na barreira, estavam a responsável francesa pelo mecanismo único de supervisão, e um dos vice-governadores do BCE, o antigo governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio.
Algumas fontes dizem compreender a posição do BCE. Lembram que a dureza destes testes é essencial para credibilizar a supervisão, e que a queda do BES tornou inevitável um cuidado especial com a banca portuguesa.