Greve geral "passou ao lado" do grupo Bernardo da Costa. "Liderança humanizada" explica porquê

DR (arquivo)
À TSF, o líder do grupo, Ricardo Costa, sublinha que o código de trabalho atual nunca foi motivo para que a empresa deixasse de "crescer, investir e evoluir" e avisa que, "se os empresários não cuidarem das suas pessoas, vão perder os seus melhores trabalhadores"
A greve geral de 11 de dezembro "passou ao lado" do grupo Bernardo da Costa, em Braga, e a "liderança humanizada" do presidente, Ricardo Costa, pode ajudar a perceber porquê.
Em declarações à TSF, Ricardo Costa garante que a paralisação convocada pelas duas centrais sindicais - a CGTP e a UGT - contra as alterações propostas pelo Governo ao pacote laboral "nem foi tema" na empresa.
"Pode parecer estranho, mas não se falou nada sobre isto. Não se falou nem quando se iniciou o processo da reforma, nem com a greve. Ninguém fez greve. Por isso, não lhe consigo dizer que tenha havido aqui discussão, que tenha havido alguma opinião. Sinceramente, passou ao lado", revela.
Enquanto empresário, Ricardo Costa considera que há "reformas no país que são mais urgentes" do que aquela que se pretende fazer ao código laboral, como são exemplo a morosidade da Justiça e o excesso de burocracia. O motivo para esta crença está, talvez, ligado à "filosofia" da empresa e à forma como olha para os trabalhadores.
"O código de trabalho nunca foi um problema. Como eu costumo dizer, pode ficar mais caro, pode ficar menos caro quando tem de haver uma separação, mas, no nosso caso, tem sido sempre positiva, quer para o trabalhador, quer para a empresa. Por isso, não é pelo código de trabalho que a nossa empresa deixou de crescer, investir e evoluir", sublinha.
Em 2017, o grupo Bernardo da Costa foi o primeiro a criar um departamento de felicidade, com o objetivo de cuidar das pessoas, para que, por sua vez, os trabalhadores cuidem melhor da empresa. Numa altura em que o mundo do trabalho em Portugal vive dias conturbados, o presidente da empresa confessa que não ficará mais feliz com um novo código do trabalho.
Para o presidente do grupo, é fundamental, em contexto laboral, "tolerar o erro, preparar as pessoas para a mudança e conhecer o propósito das pessoas e criar momentos onde possam desenvolver relações com os seus colegas". E completa a argumentação citando um estudo que aponta que as pessoas que criam relações no trabalho ficam "sete vezes mais comprometidas" com as organizações. As iniciativas neste sentido têm, por isso, sido várias.
"Nós temos muitos momentos ao longo do ano: jantares, almoços, pequenos almoços, celebrações de aniversários dentro da empresa, os espaços que temos de convívio e, portanto, essas relações também são muito cuidadas. E, acima de tudo, além do ouvir - que eu já disse que é muito importante -, é dar o exemplo com empatia", assegura.
Ricardo Costa explica que ter empatia significa que a empresa tenta "conectar-se" com seus trabalhadores, procurando perceber "o que estão a sentir" e quais as suas "dificuldades". Mas para isso, avisa, é preciso "dedicar-lhes tempo e atenção". Só assim é possível permitir que "sejam eles a brilhar".
"Eu não me importo nada de ser a pessoa mais estúpida da sala, desde que essa sala seja da minha equipa. É sinal que eu tenho pessoas melhores do que eu", assinala.
É, então, com base numa "liderança humanizada" que Ricardo Costa encara o mundo empresarial. Além da oportunidade para a "criação de novos líderes", neste grupo empresarial de Braga, ninguém ganha menos de 1025 por mês, ao qual acresce o subsídio de refeição e prémios salariais mensais. Até à pandemia, também havia direito a viagens pagas pela empresa.
"Entre 2014 e 2019, todos os anos levámos as pessoas para alguns destinos: Punta Cana, México, Cuba, Jamaica, Cabo Verde, Ibiza. Depois veio a pandemia. Nós, na pandemia, suspendemos as viagens. Tínhamos previsto ir à Tunísia nesse ano, mas com a pandemia suspendemos. Em 2021 também suspendemos", adianta.
Face ao aumento significativo do custo de vida em 2022, Ricardo Costa decidiu, contudo, perguntar às pessoas o que é que elas queriam. A resposta que teve dos trabalhadores, neste contexto, foi de que "queriam mais dinheiro do que viajar". E o pedido foi, de facto, ouvido.
"Aumentamos significativamente os prémios individuais e os prémios de equipa e, portanto, hoje não fazemos viagens porque as pessoas preferiram o nosso prémio individual, que é bastante atrativo. Pode chegar a 550 euros mensais e isso substituiu a viagem", explica.
A tudo isto soma-se também a disponibilização de fruta fresca todos os dias, serviço de engomadoria, seguro de saúde, salas de convívio nas várias instalações (com ping-pong, com snooker, com jogos), bem como a supervisão da chief happiness officer, que se dedica maioritariamente a "assuntos ligados à parte da psicologia" dos trabalhadores. Mas há também uma oferta especial no que diz respeito às férias.
"Temos a oferta de 26 dias de férias por ano. Além dos 22 dias, oferecemos o dia de aniversário, o dia de Carnaval e o dia 24 e 31 de dezembro aos nossos trabalhadores. Se esses dias forem ao fim de semana, oferecemos o dia útil imediatamente anterior", refere ainda.
Apesar disto, o presidente do grupo Bernardo da Costa reconhece que ter todos os trabalhadores sempre felizes é uma utopia. Ricardo Costa admite que, numa grande parte das empresas em Portugal, ainda há muito a fazer em defesa de quem trabalha. E, para sustentar esta crença, refere um inquérito conduzido pela Universidade do Porto que indica que 75% dos seus estudantes querem emigrar assim que concluírem o curso.
O líder do grupo lembra, assim, que "não há empresas extraordinárias sem pessoas extraordinárias" e entende que as conclusões deste estudo são um "flagelo" para a economia portuguesa.
"Se os empresários não cuidarem das suas pessoas, vão perder os seus melhores trabalhadores. (...) Esse é o grande desafio das lideranças: é conseguir atrair estes jovens para Portugal. Os empresários que não conseguirem ter esta mentalidade a médio, longo prazo, terão muitas dificuldades porque não vão conseguir atrair os melhores trabalhadores", vinca.
O grupo Bernardo da Costa nasceu em Braga em 1957, com uma primeira empresa de instalações elétricas para construção civil. Os negócios expandiram-se por vários setores e diversos países como o Brasil, África do Sul, Espanha e os Camarões. Nesta altura, conta com 400 trabalhadores, a maioria fora de Portugal.
