Em Paris, o antigo Presidente da República afirmou, em declarações à agência Lusa, que «se a Grécia não evitar a bancarrota, é a Europa toda que vai ao charco».
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À margem da entrega do Prémio Prémio Houphouët-Boigny para a Paz, que foi entregue na quarta-feira na sede da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, Mário Soares declarou que «se deixarem cair a Grécia, deixam cair o Euro e é a Europa toda que vai ao charco».
O histórico socialista e antigo Presidente da República sublinhou que «agora vale ainda mais a pena lutar pela Europa, para evitar que entre numa grande decadência».
Soares acusou também a chanceler alemã, Ângela Merkel, e o chefe de estado francês, Nicolas Sarkozy, de «quererem mandar na Europa», pelo que é preciso «acordar» os europeus.
«A Europa é uma entidade colectiva, com 27 Estados-membros. Merkel e Sarkozy esqueceram-se da solidariedade», acusou.
O antigo chefe de Estado salientou também que «os franceses não falam da crise europeia, só falam das suas eleições. A Europa pode cair e isso é uma desgraça para todos nós, incluindo para a França e a Alemanha, que se julgam impunes».
«Julgam que têm dinheiro, mas não têm. A França vai a seguir à Espanha, toda a gente sabe disso», acrescentou.
«Falam mal dos gregos como se eles fossem qualquer coisa. Foram os gregos que fundaram a civilização europeia e inventaram a democracia», sublinhou também o ex-Presidente.
Mário Soares criticou igualmente o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, que ontem [quarta-feira] alertou para o momento crítico que vive não apenas a Grécia mas a Europa.
«Realmente, antes tarde que nunca e [Durão Barroso] disse umas coisas interessantes no último dia. Mas ele já está naquele cargo há muito tempo e esqueceu-se de dizer muita coisa. Se já tivesse dito, teria sido melhor», criticou.
Quanto ao cenário nacional, Mário Soares afirmou que «o Governo de Passos Coelho está a fazer aquilo que foi acompanhado em matéria de "troika", mas sublinhou que o pacto de ajuda financeira, «só por si, não resolve nada».
Soares avisou mesmo que, se não houver luta contra a recessão, «Portugal estará ainda pior daqui a três anos».