
Reuters/Russell Boyce
Dionísia e Maria da Glória não tiveram de abdicar dos saltos altos para chegarem longo do mundo dos negócios. Para estas duas empresárias, as quotas são «estúpidas», mas reconhecem que podem ser também o único caminho para as mulheres serem mais predominantes no meio onde elas já se movem.
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Na semana passada, no final da reunião do Conselho de Ministros, o Governo anunciou vai iniciar negociações com as empresas cotadas em bolsa para que estas se comprometam a incluir pelo menos 30% de mulheres nos respetivos conselhos de administração até ao final de 2018.
A TSF ouviu a opinião de Luís Laginha de Sousa, presidente da Bolsa de Lisboa. O responsável da Euronext confessa que não fica entusiasmado com a ideia do Governo. A imposição de quotas pode trazer mais problemas que benefícios. Para Laginha de Sousa, as empresas cotadas podem até perder competitividade.
Escutámos também a opinião de duas mulheres que vingaram no mundo dos homens.
Dionísia Ferreira é uma das poucas mulheres a integrar o conselho de administração de uma empresa cotada na Bolsa. Depois de uma passagem de 14 anos pela banca, é hoje a responsável pela área operacional dos CTT. Tem a seu cargo 5.500 carteiros e 2.700 pessoas afetas à rede de lojas.
Esta empresária considera que o facto de usar saltos altos nunca foi um entrave à progressão na carreira. Nunca, por ser mulher, se sentiu discriminada. Entende, no entanto, que o seu caso não é representativo do que se passa na maioria das empresas. «Uma mulher ser administradora em Portugal, numa empresa grande ou numa grande empresa, é provavelmente menos fácil. Numa empresa cotada, é mais difícil».
A administradora dos CTT sugere que por detrás deste panorama se escondem razões de natureza cultural. «Não há muitos anos atrás, nem há muitas décadas, a mulher era encarada, não como uma mulher que conseguisse fazer tanto quanto o homem, não era tão competente quanto o homem, entre aspas pode-se dizer que não aguentaria tantas horas de trabalho quanto o homem».
À possibilidade de serem estabelecidas quotas para a presença de mulheres nos conselhos de administração das empresas cotadas na bolsa, Dionísia Ferreira diz que não é a solução ideal. «Se houver mulheres competentes como existem homens, nessas empresas, parece-me que é uma medida que se pode aplicar. O obrigar, é difícil de entender. Eu acho que tem de haver um equilíbrio. Mais do que um equilíbrio entre homens e mulheres, um equilíbrio de competências».
Maria da Glória Morão Lopes, é há quatro anos presidente da empresa de segurança Essegur. Não gosta do princípio das quotas, mas se tiver de ser... «As quotas eu acho sempre estúpido, tenho de confessar, é a minha opinião. Mas se, por aí, algumas mulheres conseguirem aceder a lugares que os homens não querem, de todo, perder, então vamos por aí».
Entende esta gestora que já passou pelo tesouro e pela banca, que o facto de ser mulher não a torna mais ou menos apta para o desempenho da função. Tal como Dionísia Ferreira, também Maria da Glória diz que nunca se sentiu discriminada no acesso a oportunidades de carreira. «Não. Verdadeiramente não. O que ponderou sempre nas decisões de quem em mim confiou, foi também, de facto, as minhas próprias características, eu acho».
Considera, ainda assim, que é evidente a discriminação de que as mulheres são alvo. «Se as mulheres, de facto, são a grande maioria deste país, se são a grande maioria nas universidades, não havia razão nenhuma para, sei lá, 90%, e já estou a ser certamente boazinha, desses cargos estarem ocupados por homens».