"É um grande dia para a Índia." Astrónomo defende que país tem muito a ganhar com missão lunar
Miguel Gonçalves lembra que a Índia é a quarta nação, depois de EUA, União Soviética e China, a aterrar na Lua.
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A primeira sonda indiana enviada à Lua chegou com sucesso ao pólo sul do satélite da Terra. Miguel Gonçalves, astrónomo e divulgador de ciência, considera que este é um dia que fica para a história.
"Hoje é o dia em que aterrou na Lua a quarta nação do planeta Terra, depois dos EUA, União Soviética e a China. Estamos a falar de 69 graus a sul, portanto já muito próximo do polo sul da Lua, que é cada vez mais, do ponto de vista científico e tecnológico, o Eldorado lunar porque já sabemos que tem muitas quantidades de gelo e água. Isso é fundamental, quer para foguetões, quer para permanências mais prolongadas da humanidade mas, de facto, este é o primeiro sucesso, ou seja, aparentemente aterraram com suavidade, com sucesso, o chamado soft landing. Agora há todo um conjunto de marcos, também de engenharia, que é preciso assegurar, nomeadamente que o lander que acabou de aterrar consegue abrir por inteiro, que consegue fazer desdobrar, tirar do próprio interior, da sua barriga, digamos assim, um pequeno rover que está também descrito e acoplado nesta missão. Depois vemos o que será a jornada científica desta desta missão, que irá durar cerca de 14 dias", explicou à TSF Miguel Gonçalves.
O especialista defende que a Índia pode ter muito a ganhar com esta missão lunar.
"Ir à lua é também, quem sabe, ajudar a melhorar um pouco as nossas condições aqui na Terra. A Índia deu este passo, é um grande dia para a Índia e é preciso salientar que isto deu-se numa altura em que está a decorrer a reunião dos BRICS e, portanto, temos aqui também um marco de afirmação do poderio tecnológico indiano. Lembrar também que esta missão custou "apenas", entre aspas, 90 milhões de dólares, ou seja, a Índia tem-se notabilizado em criar missões espaciais com sucesso assinalável e a preço muito mais baixo do que aquilo que é investido por outras agências espaciais. A Índia, até há bem pouco tempo, esteve presente na órbita de Marte. É um grande dia para a Índia. Não é por acaso que vemos neste momento na televisão indiana o primeiro-ministro indiano precisamente a utilizar a arena espacial para esta afirmação geopolítica", acrescentou o astrónomo.
O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, classificou o dia de hoje, em que a Índia se tornou o primeiro país a colocar uma sonda na superfície lunar junto ao pólo sul, como "um dia histórico". O nacionalista hindu, que se encontra na África do Sul a assistir à cimeira de líderes dos BRICS (grupo de economias emergentes composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), fez uma pausa na sua participação para acompanhar em direto o momento da alunagem.
A nave não-tripulada Chandrayaan-3, lançada a 14 de julho com o maior e mais pesado foguetão do país, demorou 40 dias na viagem e pousou esta quarta-feira pelas 13h30 (hora de Lisboa) junto ao pólo sul da Lua, nunca antes explorado.
O módulo de aterragem leva no seu interior um veículo exploratório (rover) que iniciará em breve o seu trajeto para recolher informação e amostras da superfície.
A Índia foi a primeira nação asiática a colocar uma nave na órbita de Marte em 2014. A Organização de Investigação Espacial Indiana espera lançar uma missão tripulada de três dias à órbita da Terra no próximo ano.