Quando cidadãos também ajudam a prevenir situações de risco, resultado "só podia ser fantástico": conheça o projeto do Técnico vencedor dos RegioStars
O AGEO – Plataforma Atlântica para a Gestão do Risco Geológico foi premiado pela Comissão Europeia na categoria Europa Verde. O projeto foi ainda o mais votado pelo público
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Do cruzamento entre a ciência, a tecnologia e a participação cívica, nasceu o AGEO – Plataforma Atlântica para a Gestão do Risco Geológico, um projeto europeu que está a transformar a forma como as comunidades enfrentam os perigos naturais e que foi esta quarta-feira premiado pela Comissão Europeia.
"É uma sensação fantástica e, acima de tudo, é ótimo perceber que o nosso trabalho é muito virado para os cidadãos. Não posso descrever a alegria que sinto depois de tantos anos ligado a este trabalho", reagiu o coordenador do projeto e investigador do Técnico, Rui Carrilho Gomes, em declarações à TSF, após receber os prémios RegioStars na categoria Europa Verde e escolha favorita do público, em Bruxelas.
Num contexto em que as alterações climáticas e a ocupação do território aumentam a vulnerabilidade a fenómenos como deslizamentos de terras, erosão costeira, sismos e inundações, o AGEO — projeto desenvolvido entre 2019 e 2023 — propôs-se criar uma rede de “Observatórios de Cidadãos”. Nestes observatórios, o cidadão comum trabalha lado a lado com investigadores e autoridades para identificar sinais de perigo, partilhar informação e prevenir danos antes que seja tarde demais.
Nós temos uma aplicação que temos no nosso telemóvel e que nos dá, por exemplo, alertas sobre qualquer coisa numa determinada zona. Se há uma cheia, sabemos que há o risco. Por outro lado, o cidadão também pode passar informações ao sistema de informação. Vê a agua a subir, tira uma fotografia e quem está a gerir o risco percebe que está ali a acontecer qualquer coisa.
"Depois temos os satélites que estão sempre a passar à volta do planeta. Processando essas imagens nós conseguimos mapear as zonas afetas."
Em Portugal, o projeto teve expressão sobretudo em Lisboa e na Madeira, mas a sua rede alargou-se a outros pontos da fachada atlântica: Ilhas Canárias (Espanha), Bretanha (França) e Irlanda do Norte (Reino Unido). Em cada uma destas regiões-piloto, foram testadas ferramentas inovadoras que juntam o conhecimento científico com a observação local — desde sensores e dados de satélite a relatórios feitos por cidadãos através de uma aplicação móvel criada para o projeto.
Entre os parceiros portugueses estiveram o Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG) e o Instituto Superior Técnico, que liderou a coordenação do consórcio.
"Aquilo que desenvolvemos pode ser aplicado em qualquer parte do mundo. (...) Gostaria muito de levar este projeto ao nível nacional e europeu, mas vamos ver o que o futuro nos reserva", rematou Rui Carrilho Gomes.