"Este é o meu desafio." Uma fila de 12 dias para ser o primeiro a entrar no sorteio do El Gordo
Jesús Ruiz está desde o dia 10 à porta do Teatro Real de Madrid, onde terá lugar o sorteio da Lotaria de Natal.
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Jesús Ruiz, de 53 anos, já perdeu a conta aos dias que está na fila do Teatro Real, em Madrid.
"Estou aqui já nem sei se há nove, dez dias, já nem me lembro", diz.
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São 12 os dias de espera e esta sexta-feira, quando as portas se abrirem, vai ser o primeiro a entrar na sala onde se fará o sorteio da Lotaria de Natal.
Como cada 22 de dezembro, os olhos e os ouvidos de todos os espanhóis estão postos no Teatro Real e nas vozes das crianças do Colégio de San Ildefonso, que vão cantar os números premiados, e o tão esperado El Gordo, de quatro milhões de euros.
"Só o facto de estar aqui à espera e depois entrar na sala para ouvir as crianças de San Ildefonso é um orgulho para mim e enternece-me muito", explica emocionado Jesús.
Há 16 anos que viaja da sua aldeia Novales, na Cantábria, para ver o sorteio em direto em Madrid. Este é o quinto ano em que consegue ser o primeiro da fila.
"Isto para mim já é um desafio. Já não é entrar e ver o sorteio em direto, é conseguir chegar primeiro", conta.
É uma tradição que Jesús criou para homenagear a família, os pais e o tio, que sempre sonharam ver o sorteio em direto, mas nunca conseguiram: "Quando chegava o Natal víamos o sorteio na televisão, a preto e branco e eles sempre diziam que algum dia tínhamos de vir... eles não puderam, venho eu".
De gorro, cachecol e bem agasalhado para enfrentar as temperaturas muito frias que já se fazem sentir em Madrid, Jesús passa os dias à porta do Teatro Real, onde já todos o conhecem e o cumprimentam. Chega entre as 5h00 horas e as 6h00 horas da manhã e fica ali até perto da meia-noite, quando vai descansar. O lugar está marcado e os que chegam depois respeitam a ordem.
"Quando chega o segundo eu aproveito para ir ao hotel, tomar banho, descansar e esticar um pouco as pernas. De qualquer forma o que fazemos é um controlo por números e nunca há problemas. As duas últimas noites já as passamos aqui todos juntos, porque já vem muita gente", explica. Tanta, que muitos ficam à porta do teatro, sem poder entrar.
Lá dentro, o ritual é conhecido e mesmo que tudo se repita, há sempre espaço para surpresas. Como no ano passado, quando alguém do público tinha o número premiado.
"Saiu o prémio Gordo a uma rapariga aqui na sala. Claro que em algum lado tem de sair, mas que saia dentro da sala... aos anos que venho e nunca me tinha acontecido".
O que também nunca aconteceu foi ser ele um dos premiados.
"Não", diz com uma gargalhada, "tenho bastantes amigos a quem lhes saiu, mas a mim não me saiu nada". Ainda assim, Jesús continua fiel ao mesmo décimo, uma combinação de cinco zeros que ainda não lhe trouxe a sorte, mas que, todos os anos, mantém viva a esperança.