Paulo Rangel afirma que os países europeus não podem desvalorizar a situação humanitária na Venezuela e acusa o Governo português de ter deixado as coisas chegaram ao ponto em que estão por ter sido complacente com o regime venezuelano no passado.
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O eurodeputado Paulo Rangel defende que a Europa tem de forçar Nicolás Maduro a aceitar a ajuda humanitária. No Fórum TSF, o eurodeputado do PSD disse que a Europa está a desvalorizar a situação humanitária em território venezuelano e afirma que é preciso garantir que a ajuda chega, de facto, à população.
"No interior da Venezuela, a situação é trágica", afirmou o eurodeputado português, que, este fim de semana, esteve na zona de fronteira entre a Colômbia e a Venezuela, para participar em ações de ajuda humanitária e pressionar o regime de Maduro.
"Não estamos a falar de uma situação normal, de uma situação em que há apenas um conflito político. A população está à míngua, há muita gente que está a passar fome, o sistema de saúde está paralisado - morrem, todos os dias, pessoas por falta de assistência de saúde", alertou Paulo Rangel. "Nós não podemos fazer de conta que não acontece nada disto."
Rangel considera que os governos europeus têm desvalorizado a questão humanitária na Venezuela. "[A Europa] até disponibilizou ajuda, mas é preciso fazê-la chegar. É preciso pressionar Maduro para que ele a aceite", insistiu o eurodeputado.
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A única solução que não pode ser adotada para cumprir esse objetivo, defende Paulo Rangel, é a violência. "É altamente negativo e prejudicial que haja uma intervenção militar externa", declarou. "Isso seria um erro."
A mesma opinião é partilhada pelo secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro, que, no Fórum TSF, exprimiu que tanto Portugal como a União Europeia são contra "quaisquer intervenções de cariz militar".
"Uma intervenção militar externa ou a confrontação interna com recurso à força militar, naturalmente, terá consequências devastadoras para todos", sublinhou José Luís Carneiro.
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O secretário de Estado diz que tem de ser encontrada uma "solução pacífica" e uma "saída democrática" para o impasse político na Venezuela, apesar de reconhecer que "o ambiente de tensão agudizou-se muito, particularmente nas zonas de fronteira".
Para já, o Governo português não tem informação de que haja portugueses envolvidos nos incidentes junto às fronteiras da Venezuela, que causaram pelo menos quatro mortos e centenas de feridos, no último fim de semana. "Vamos continuar a acompanhar todos os desenvolvimentos", garantiu José Luís Carneiro.
Portugal foi "complacente" durante muitos anos
No Fórum TSF, Paulo Rangel fez também questão de criticar a postura adotada por Portugal, durante muito tempo, em relação à Venezuela e aos regimes de Nicolás Maduro e Hugo Chávez.
"No caso do Governo português, não é a posição atual que é lamentável, é a posição anterior. É o laxismo que tivemos durante anos", apontou o eurodeputado do PSD.
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"Se a Venezuela hoje está nesta situação, é porque muitos governos europeus - e aí também se inclui o [Governo] português - foram muito complacentes", reforçou.
Paulo Rangel criticou o facto de, durante o Governo socialista de José Sócrates, "nos anos de 2005 a 2010", existir uma grande "intimidade" com o regime venezuelano e lamentou a "quantidade de negócios feitos" com o país.
"Tudo isto alimentou uma máquina de poder que levou a que um país - que, apesar de tudo, tinha um regime democrático mais contínuo e um nível de vida superior ao de outros países da América Latina - ficasse numa situação desesperada", concluiu.
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