Ataque em Bruxelas "dará mais um argumento para a Suécia" adotar política anti-imigração
O investigador Alberto Cunha sublinha, à TSF, que o discurso do chefe de Governo durante as eleições já era diferente em relação ao anterior Executivo.
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O Governo sueco pode estar a usar o ataque desta segunda-feira em Bruxelas, onde dois cidadãos suecos foram mortos a tiro, para reforçar um discurso anti-imigração. Esta é uma das leituras que o investigador Alberto Cunha faz às palavras do primeiro-ministro da Suécia.
Ulf Kristersson, que anunciou esta terça-feira que se desloca na quarta-feira a Bruxelas para prestar homenagem às vítimas do atentado, afirmou que nunca na história recente a Suécia esteve tão ameaçada.
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O investigador do Instituto Português de Relações Internacionais, que está a terminar um doutoramento em Estudos Europeus, no King's College London, questionado pela TSF, destaca que o chefe do Executivo já está a "tentar" reforçar uma política desfavorável à imigração "desde que chegou ao poder".
"Existe uma grande tradição de acolhimento na Suécia, portanto estas questões não são fáceis para o novo Governo lidar, mas, como tipicamente acontece em política, este ataque dará mais um argumento para o novo Governo poder mudar essa política", explica, acrescentado que o discurso anti-imigração foi decisivo para a vitória de Ulf Kristersson nas eleições legislativas de há um ano.
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"Este foi um dos temas de eleição. Não foi só, existem sempre vários temas numa eleição - também a questão económica sempre -, mas este foi um dos grandes temas", considera.
Alberto Cunha aponta ainda que o Estado sueco, durante a crise de 2015 e 2016, foi aquele que recebeu mais refugiados e migrantes, tendo em conta a percentagem da população - "mais até do que a Alemanha".
"Toda a gente se lembra da ação da chanceler [Angela] Merkel, que foi inegável, mas a Suécia recebeu mesmo uma enorme percentagem, tendo em conta que tem uma população equivalente a Portugal. Confesso que não tenho os números daqueles que entraram em 2015/2016, mas neste momento já existe uma comunidade da diáspora do Médio Oriente na Suécia que é bastante mais elevada do que aquilo que seria de esperar de um país que está geograficamente muito longe do Médio Oriente", afirma.
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Ulf Kristersson chegou ao poder em outubro de 2022, com os votos do partido da extrema-direita Democratas da Suécia, e o investigador esclarece que, à data das eleições, este novo Governo "já tinha uma atitude um bocadinho diferente" em relação à política de imigração.
"A Suécia teve sempre - nomeadamente com o Governo anterior de esquerda - uma posição de que deveria haver uma distribuição de quotas obrigatória destes refugiados pelos outros países da UE. Ora, este novo Governo já tinha uma atitude um bocadinho diferente em relação a esta política e este ataque dará mais um argumento para a Suécia ter um posicionamento menos pró-imigração do que tipicamente teve na UE, o que pode ter implicações europeias", alerta.
O autor do atentado identificado como Abdesalem Lassoued, um tunisino de 45 anos, foi morto pela polícia na madrugada de hoje num café de Bruxelas.
O suspeito encontrava-se ilegalmente na Bélgica, onde pediu asilo sem êxito em 2019, e estava identificado pela polícia por diversos delitos, mas não por extremismo violento, indicou manhã de hoje o primeiro-ministro belga, Alexander De Croo.
De acordo com fontes da agência noticiosa italiana Ansa, o suspeito desembarcou na ilha de Lampedusa numa pequena embarcação em 2011.