Cimeira da Paz: discursos são "otimistas", mas com "não jogadores" o cessar-fogo será difícil
O professor de Relações Internacionais Luís Tomé destaca à TSF que é Israel quem tem o poder de decidir quando volta a entrar na Faixa de Gaza mais ajuda humanitária.
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O investigador Luís Tome sublinha que a Cimeira da Paz, que está a decorrer este sábado na Nova Capital Administrativa do Egito, para encontrar uma solução para por fim à guerra em curso entre Israel e o Hamas, tem um discurso otimista, mas não vai ser decisiva para um "cessar-fogo".
O encontro ocorreu na mesma tarde em que o Exército israelita prometeu "intensificar" os bombardeamentos sobre Gaza, em preparação para a próxima fase da sua ofensiva no território palestino controlado pelo grupo islamita Hamas.
Luís Tomé admite que ficou surpreendido com as palavras do líder do Egito, Abdel al-Sisi, que deu conta de que o país quer avançar com um "roteiro para relançar processo de paz".
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O diretor do departamento de Relações Internacionais da Universidade Autónoma considera ser difícil que tal aconteça, até porque os principais atores do conflito não estão sentados à mesa.
"Achei bastante otimista o Presidente egípcio, que acolhe a cimeira, achar e propor - tinha a expectativa - de que os líderes, os participantes nesta cimeira, chegassem a um acordo sobre um roteiro para pôr fim àquilo que ele chamou 'catástrofe humanitária'. Eu tenho muitas dúvidas sobre a possibilidade desse roteiro ser acordado a partir daqui e mais dúvidas ainda que tenha efeitos práticos no terreno, porque esse roteiro implica não apenas a ajuda humanitária entregue a Gaza, mas um acordo de cessar-fogo", afirma, em declarações à TSF.
Luís Tomé lamenta a ausência de Israel, do Irão e dos EUA, destacando que "os participantes desta cimeira são uma espécie de não jogadores".
"Os principais atores não estão a participar e, por muito que se façam apelos a cessar-fogo, sem estar Israel e sem Israel dar o seu acordo, não me parece que possa ter qualquer efeito prático", acrescenta.
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Nesta cimeira, o líder da autoridade palestiniana avisou que não vai ser tolerada nenhuma tentativa de retirar os palestinianos do território onde sempre viveram.
Luís Tomé esclarece que Mahmoud Abbas está a tentar procurar reforçar o papel da autoridade palestiniana na Faixa de Gaza, onde, na manhã deste sábado, entrou a primeira leva de ajuda humanitária, através de 20 camiões com alimentos e medicamentos.
"Sabendo-se que ele não só é contestado por parte dos palestinianos - inclusivamente na Cisjordânia - mas também que alente alguma expectativa de a prazo, na sequência deste conflito, a autoridade palestiniana ver reposto o ser controlo sobre a Faixa de Gaza, uma vez que a autoridade palestiniana foi expulsa pelo Hamas em 2007.
O professor de Relações Internacionais Luís Tomé lembra que é Israel quem tem o poder de decidir quando volta a entrar na Faixa de Gaza mais ajuda humanitária.
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"Se Israel percecionar que a ajuda humanitária não favorece o Hamas, não consolida o Hamas e apoios internos e externos à Faixa de Gaza para o Hamas, facilitará que a seguir a este, se sucedam outros comboios de ajuda humanitária, até pela grande pressão internacional. Se, pelo contrário, Israel considerar que essa ajuda vai para norte, consolida a posição do território do Hamas no norte da Faixa de Gaza, que a população se mantém lá e porventura algumas das coisas até não vão para civis, mas mais para operacionais do Hamas, Israel vai continuar a tentar travar a ajuda humanitária", assegura.
A análise de Luís Tomé à Cimeira pela Paz, que junta vários protagonistas mundiais, no Cairo, nomeadamente o secretário-geral da ONU, António Guterres, que apelou a um cessar-fogo humanitário imediato.