Da direita à esquerda, crescem os apelos para ocupar as ruas na reta final da campanha
Se existir, é provável que exista na Avenida Paulista, em São Paulo, e no caso das campanhas eleitorais a realidade aplica-se que nem uma luva. Na artéria mais importante desta metrópole, a maioria das pessoas que exibem propaganda eleitoral são favoráveis a Lula da Silva, mas também há manifestações em prol de Bolsonaro e o apelo para que a direita saia à rua.
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O som sai de uma coluna à porta de um centro comercial da Paulista, a música que toca em loop é de apoio ao atual presidente do Brasil. "Vota, vota e confirma, 22 é Bolsonaro", é a letra bem chiclete que entra na cabeça e que custa a sair. Não chegam a dez, mas são facilmente identificáveis, não só pelas roupas verdes e amarelas, mas também porque trouxeram autocolantes para distribuir.
Minutos antes, a TSF tinha ligado para a sede do Partido Liberal, em São Paulo, para saber se havia alguma ação de campanha e distribuição de propaganda prevista na cidade e a resposta da secretária foi clara: "não tenho conhecimento de nenhuma". E era verdade porque este grupo foi organizado de forma informal.
"A gente decidiu reunir-se em apoio ao Bolsonaro, melhor do que ficar em casa na rede social", diz a organizadora deste pequeno ajuntamento de uma dezena de pessoas. Josi Guimarães, de boné na cabeça e t-shirt com a bandeira do Brasil, gostava de ver mais a direita - ou "patriotas", como lhes chama - na rua.
De resto, até tem a explicação para que a Avenida Paulista aparente ser mais favorável ao candidato Lula. "A gente sempre acha que é de esquerda, mas é porque a direita nunca vem para cá, mas isso está mudando. Muitos jovens passam por aqui e apoiam o Lula, mas são jovens que não trabalham e dependem do pai... Esses apoiam o Lula, mas os que trabalham e precisam da economia são Bolsonaro e esse quadro está a mudar aqui na Avenida Paulista", diz com ar confiante.
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Noutra resposta, estende o argumento a todos. "A gente não tem tempo para ficar a passear, perdendo tempo aqui e a jogar tempo fora, a gente trabalha. É por isso que a Paulista parece ser mais de esquerda, tem muita gente que não trabalha e que vem para cá".
De facto, numa caminhada pela avenida mais movimentada da cidade, percebe-se que quem tem vontade de expressar publicamente o apoio vai votar em Lula. Seja porque os autocolantes já fazem parte do dress code, seja porque vestem t-shirts ou usam acessórios que remetem ao candidato da esquerda. Bolsonaristas assumidos vêem-se poucos, apenas nos carros que ostentam bandeiras do Brasil e que foi apropriada pelo movimento de apoio ao atual presidente. Curiosamente, neste grupo havia uma senhora com a bandeira... de Israel.
O apelo para as ruas
Algumas centenas de metros à frente, na entrada do Museu de Arte de São Paulo, também um pequeno grupo fazia o mesmo que os bolsonaristas, mas para a campanha de Lula. Tratava-se de um movimento de pessoas ligadas à Universidade de São Paulo e que procuravam virar-votos.
Na verdade, pareciam pregar maioritariamente para gente já convertida, mas Alexandre Pariol Filho deixa claro que é importante estar nas ruas e conseguir votos, não só em Lula, mas também em Fernando Haddad que disputa igualmente a segunda volta para o cargo de governador estadual.
"É um professor que vai tratar da educação, que vai tratar do melhor para as pessoas em São Paulo. Temos de crescer, chamar todo o mundo para a rua... É na rua que a gente vai ser governador do Estado e levar Lula à presidência", diz este trabalhador da Universidade de São Paulo que puxou para si a tarefa de distribuir adesivos com o número 13, o número da votação eletrónica em Lula da Silva.
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Ao lado, junta-se Enrico Barbosa de Moura ao aperceber-se da presença da rádio e, quase sem pedir licença, entoa um discurso bem ensaiado na defesa do voto em Lula. Diz ele que, "nestas últimas horas [de campanha], é importante manter o coração quente e a cabeça fria" com o objetivo de conseguir "uma grande vitória no domingo em defesa da democracia".
E sublinha o que Alexandre já havia dito: "Vamos para a rua conversar com o povo, a gente sempre fez isso e vamos fazer de novo. É conversando com as pessoas e convencendo que vamos ter uma grande vitória. É necessário vencermos as eleições de 2022 porque é a eleição mais importante desde a redemocratização do Brasil". E segue falando com quem passa fazendo o L com as mãos.
"Sou gay e bolsonarista"
Quem também ao ver o microfone da TSF se aproximou, mas, no caso, junto dos apoiantes de Bolsonaro foi Bruno Vieira. E entra de forma decidida: "Deixa falar, eu sou gay e bolsonarista para provar que Bolsonaro não tem nada contra gays. Isso é uma mentira, é o PT que mete gay contra hétero, negro contra branco... Quatro anos de Bolsonaro e não senti nada de errado, falaram que ele ia matar os gays, mas pelo contrário: triplicou a quantidade de gays", diz antes de soltar uma gargalhada.
Este jovem vai em contra corrente da grande maioria das pessoas LGBTQIA+ no Brasil: diz que nunca se sentiu violentado nos seus direitos, nem mesmo nos comentários homofóbicos e transfóbicos feitos pelo atual presidente. E até passa pano nas declarações de Bolsonaro lembrando que todos já dissemos coisas erradas no passado.
"Eu, no passado, já falei coisas de que me arrependo, Bolsonaro, no passado, já falou coisas de que se arrepende, mas o que importa não é o que fala, é a sua ação. Falarem é fácil, mas o que é que ele fez? A marcha dele é contra incentivar as crianças nas escolas, não é normal você incentivar. Quer ser gay? Ok, que seja, mas naturalmente. Mas dentro das escolas ensinar como é que faz para dois homens fazerem o que fazem, isso é completamente errado", conclui antes de voltar a cantar para quem quiser ouvir que "22 é Bolsonaro".