"Aldeias completamente arrasadas." Sismo em Marrocos ocorreu em "zona de falha ativa"
Em declarações à TSF, o geólogo Rui Dias explica que é normal existirem réplicas, mas o abalo que foi sentido em algumas zonas de Portugal não significa que possa ocorrer, nos próximos dias, um sismo desta intensidade no nosso país.
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Um forte sismo de magnitude 7.0 atingiu Marrocos, na noite de sexta-feira, provocando a morte a mais de 800 pessoas. Rui Dias tem trabalhado numa zona próxima ao epicentro, a estudar a falha tectónica onde ocorreu terramoto. O geólogo da Universidade de Évora explica que era previsível um sismo intenso, mas fica surpreendido pela violência do abalo. Numa zona com acessos difíceis, o especialista admite que algumas aldeias tenham ficado completamente destruídas.
"Sabemos que era uma zona de falha ativa e era expectável que algures pudesse vir a ocorrer movimentos e sismos intensos. É uma falha que tem uma série de aldeias pequeninas ao lado, algumas não se chega sequer de carro, chega-se a pé, são tudo aldeias de construções muito precárias, muitas vezes são pedra sobre pedra. Portanto, é expectável que vá haver grandes problemas e o número de mortes tem estado a aumentar porque há aldeias que, de certeza, só se vai conseguir chegar lá dentro de alguns dias, ou porque não têm estradas ou o acesso está muito complicado. É possível que algumas aldeias tenham sido completamente arrasadas", afirma à TSF Rui Dias.
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Rui Dias adianta que é normal existirem réplicas, mas o abalo que foi sentido em algumas zonas de Portugal não significa que possa ocorrer, nos próximos dias, um sismo desta intensidade no nosso país.
"Há uma série de falhas em Portugal que têm potencialidade para desencadear sismos, mas isto foi uma estrutura que mexeu muito longe de nós e, portanto, este sismo não terá efeitos nos sismos que possam ou não vir a haver em Portugal", garante.
"É normal ter sido sentido o sismo em várias zonas de Portugal, mas as pessoas podem ficar tão descansadas como estavam ontem antes de ter acontecido o sismo a sul de Marraquexe, porque não tem nada uma coisa a ver com outra", frisa.
O elevado número de vítimas em Marrocos também se explica pela fragilidade das estruturas no país. Ouvido pela TSF, o professor de Geofísica da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa Luís Matias lembra que a zona já estava identificada pelo elevado risco sísmico.
"Já houve ali um sismo tremendo em termos de vítimas, que foi o sismo de Agadir em 1960, que provocou mais de 10.000 vítimas, a maior parte delas devido à fragilidade das construções. Esta é uma zona já conhecida pela atividade sísmica, situa-se no Atlas, que é uma zona com uma cadeia de montanhas reconhecidamente ativa. Os meus colegas que já trabalharam em Marrocos identificam estruturas ativas, portanto, era com certeza uma zona já identificada do ponto de vista do ponto de vista do risco sísmico. A questão é o que se passa com as construções velhas e quem já visitou Marrocos vê bem a fragilidade daquelas construções e, portanto, um sismo que provoque maior vibração essas construções mais frágeis têm o risco de colapsar e vitimar as pessoas que estão lá dentro", explica.
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As próximas horas vão ser de bastante trabalho para as autoridades. Nesta altura, contam-se mais de 30 réplicas e Luís Matias admite que o número pode não ficar por aí
"Estas são horas de intensa atividade da Proteção Civil. A situação habitual é que o número de réplicas e a sua magnitude vá diminuindo com o tempo, mas infelizmente o planeta Terra já nos tem habituado a que o não habitual apareça de vez em quando", sublinha.
Pelo menos 1037 pessoas morreram e outras 1204 ficaram feridas na sequência de um forte sismo que atingiu Marrocos, na sexta-feira à noite.
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A província com mais vítimas registadas é Al Haouz, a sul de Marraquexe e próxima do epicentro, com 394 mortos, segundo o balanço até às 10h00 locais (mesma hora em Lisboa), citado pela agência espanhola EFE.
Segue-se Taroudant (271 mortos), Chichaoua (91), Ouarzazate (31), Marraquexe (13), Azilal (11), Agadir (5), Casablanca (3) e Al Youssufia (1).
De acordo com o Instituto Nacional de Geofísica de Marrocos, o sismo atingiu a magnitude 7.0 na escala de Richter e ocorreu na região de Marraquexe (norte) às 23h11, a uma profundidade de oito quilómetros.
O epicentro foi na localidade de Ighil, situada a cerca de 80 quilómetros a sudoeste de Marraquexe.
O forte sismo foi sentido em Portugal e Espanha.
* com Carolina Quaresma