Vários especialistas, ouvidos no Fórum TSF, consideram que há agora uma maior incerteza.
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A rebelião do grupo Wagner, que durou mais de 24 horas, deixou, na opinião do ex-secretário-geral adjunto da ONU Vítor Ângelo, o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, fragilizado. No Fórum TSF, o especialista confessou que vê um perigo nesta fragilidade de Putin.
"A minha experiência mostra que quando o ditador se sente mais frágil tende a extremar-se, ou seja, a tomar posições ainda mais radicais. Neste caso, mais agressivas, nomeadamente em relação à Ucrânia, ou seja, podemos esperar nos próximos dias, nas próximas semanas, uma intensificação dos ataques, nomeadamente dos ataques através de mísseis contra a Ucrânia. É fundamental que do lado ocidental se tenha isso em conta, se tenha em conta a experiência que há com outros ditadores em situações semelhantes, que se reforce o apoio de defesa antiaérea da Ucrânia, que se pense exatamente na questão da aviação de guerra ucraniana e se resolva esse problema, que é um problema que está pendurado há bastante tempo e que precisa de ser resolvido urgentemente", explicou Vítor Ângelo.
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O eurodeputado do PSD Paulo Rangel concorda com esta leitura de Vítor Ângelo em relação à Rússia e considera que há agora uma maior incerteza.
"Temos aqui um aumento do risco e da incerteza porque, por um lado, há um enfraquecimento do poder de Putin. Verificou-se que o governo e a liderança da federação russa foi posta em causa duplamente. Houve este motim, insurreição ou sublevação, não sabemos bem. Isso significa que há forças que não estão satisfeitas com a condução da guerra mas, por outro lado, passividade das forças armadas russas", defendeu à TSF Paulo Rangel.
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Já Pedro Marques, eurodeputado do PS, defende que ainda não é claro o que vai acontecer na Rússia nos próximos dias.
"Não há dados claros, não há certezas sequer sobre onde está neste momento Prigozhin. Portanto, a ideia do possível acordo feito horas depois de Putin ter chamado a Prigozhin um traidor mostra uma imagem de fraqueza de Putin, mas Putin evidentemente tem essa noção e o seu regime e isto ainda não acabou certamente. Putin não quererá apenas ficar com essa imagem de enfraquecimento. Vamos ver o que acontece nas próximas horas e nos próximos dias, esperando evidentemente que a consequência a retirar tudo isto, desse enfraquecimento que parece evidente do regime russo seja, de facto, o fim da agressão na Ucrânia. Isso é o mais importante e nós temos que continuar a fazer a nossa parte, que é apoiar de forma impecável e inabalável, os ucranianos", argumentou Pedro Marques.
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O investigador do Instituto Português de Relação Internacionais, José Pedro Teixeira Fernandes, tem uma opinião contrária.
"Estas lutas de fações no Estado russo são uma criação, em grande parte, do próprio Putin. Ele pode ter agora perdido durante este fim de semana algum controlo dos acontecimentos, mas não é óbvio que ele não consiga reverter isto a seu favor porque Prigozhin recuou. Não sabemos exatamente em que termos e o que lhe vai acontecer, não apareceu ninguém depois a desafiar abertamente Vladimir Putin. Isto pode permitir a Vladimir Putin ainda aumentar o controlo sobre as estruturas estaduais e eliminar opositores com quem ele não se sentia tão seguro quanto isso para o fazer", acrescentou José Pedro Teixeira Fernandes.
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Horas após o início da rebelião e à medida que as unidades do grupo Wagner avançavam em direção a Moscovo, o Kremlin anunciou um acordo que envolve a partida de Prigozhin para a Bielorrússia, bem como a retirada das acusações de traição e a garantia de que os membros do grupo mercenário não seriam julgados pelas suas ações.
Na sequência do acordo, Prigozhin ordenou aos membros do grupo que abandonassem as posições assumidas durante o seu avanço, incluindo a retirada do centro da cidade de Rostov-on-Don, a fim de reduzir as tensões decorrentes da luta contra a liderança do Ministério da Defesa e do exército russos no contexto da invasão da Ucrânia desencadeada em fevereiro de 2022 por ordem do Presidente russo Vladimir Putin.