O líder da coligação da esquerda radical e europeísta grega Syriza, Alexis Tsipras, que garantiu o segundo lugar nas legislativas de domingo na Grécia, vai utilizar o prazo máximo de três dias para tentar formar um governo.
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O líder da Syriza - que reúne cerca de 30 pequenos partidos e movimentos cívicos, que quase quadruplicou a sua votação face a 2009 e ficou a dois por cento da vitória -- foi hoje mandatado pelo chefe de Estado, Carolos Papoulias, para iniciar as rondas de conversações e admitiu ser «uma grande responsabilidade» tentar formar um novo executivo.
Tsipras excluiu hoje a participação numa coligação que apoie o memorando de ajustamento ditado pelos credores internacionais, e também reconheceu que não será fácil alcançar um acordo.
Num parlamento de 300 lugares, os conservadores da Nova Democracia controlam 108 (50 como bónus por serem a força mais votada), a Syriza 52, os socialistas moderados do Pasok 41, os nacionalistas Gregos Independentes 33, o Partido Comunista 26, os neonazis do Amanhecer Dourado 21 e os moderados de esquerda Dimar 19.
«Poderia ser mais fácil a formação de um governo de esquerda caso a lei eleitoral não oferecesse uma prenda de 50 lugares ao primeiro partido», considerou o líder da Syriza.
De acordo com a agência noticiosa Efe, o jovem dirigente, 37 anos e deputado desde 2009, já definiu os cinco pontos decisivos do seu programa, caso seja obtido um acordo.
Primeiro, cancelamento das medidas do memorando assinado entre a Grécia e os credores internacionais (União Europeia, Banco central europeu e Fundo Monetário Internacional) para a concessão do segundo empréstimo de resgate, e que inclui cortes nos salários e pensões.
O cancelamento de todas as medidas que atingem os direitos dos trabalhadores, incluindo o fim dos contratos coletivos, outra medida prevista no memorando.
A abolição da imunidade parlamentar para os deputados e a reforma da lei eleitoral, para que se torne mais proporcional, é a terceira medida proposta.
No quarto ponto, a Syriza propõe uma investigação aos bancos gregos, a publicação dos relatórios secretos da companhia BlackRock sobre essas instituições e o reforço do controlo do Estado sobre o sistema bancário.
Por último é sugerida a formação de um comité internacional de auditoria à dívida grega para averiguar qual pode ser considerada ilegítima - e que poderá não ser paga de acordo com as normas internacionais - e a declaração de uma moratória dos pagamentos até a conclusão da auditoria.
Hoje, primeiro dia de reuniões, a Syriza já recebeu o apoio do Dimar, com o seu líder Fotis Kuvelis a referir que o partido «contribuirá para que se forme um governo e se evitem novas eleições».
Pelo contrário, o Partido Comunista (KKE, ortodoxo), que exige a saída da Grécia da UE e da NATO, recusou pactuar com as restantes forças de esquerda, e que critica «por não pretenderem acabar com o capitalismo».
Na quarta-feira, Tsipras vai manter encontros com representantes dos sindicatos, movimentos sociais e associações empresariais.
Os contactos prosseguem na quinta-feira, com reuniões com o Pasok, Gregos Independentes e ND, apesar do líder dos conservadores, Antonis Samaras - que na segunda-feira e após manter diversas reuniões anunciou ter desistido de formar governo - já ter referido que não se juntará à Syriza «porque a única coisa que [Tsipras] pretende é formar uma frente de esquerda anti-europeia».