Guerra Hamas-Israel: "Podemos ter outra vez uma subida do número de ataques em nome do jihadismo"
Felipe Pathé Duarte diz à TSF que o espaço europeu pode vir "a ter uma realidade muito semelhante à de 2015 ou 2016".
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O especialista em terrorismo Felipe Pathé Duarte considera que o atual conflito entre o Hamas e Israel no Médio Oriente pode transpor fronteiras e levar a um aumento de ataques terroristas na Europa.
"Podemos ter outra vez uma subida do número de ataques em nome do jihadismo. Mas porque é que eu digo isto é um ponto de inflexão? Porque o jihadismo global, representado pelo Daesh ou pela Al-Qaeda, nunca se conseguiu aproximar verdadeiramente do Hamas ou eventualmente da Jihad Palestiniana que se perspetivaram a sua jihad numa perspetiva mais local. Agora, resultado do apelo que o líder do Hamas fez e tendo em conta o escalar da violência, é possível que o Hamas e os grupos jihadistas próximos da Palestina abram os seus copos e passem eventualmente a considerar e ponderar ataques, mas numa área global", explica à TSF o professor da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa.
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A união em torno da causa palestiniana no mundo árabe pode colocar o conflito num nível global: "A causa palestiniana sempre foi uma causa comum no mundo árabe ou islâmico e em particular em todos os jihadistas, sejam os jihadistas que atuam localmente, sejam os jihadistas que procuram uma ação global. Perante o que está a acontecer, a probabilidade de os locais e dos globais encontrarem nesta causa um motivo para ação violenta é muito grande e isso fará com que eventualmente nós entramos num ponto de inflexão e passemos, sobretudo aqui no espaço europeu, talvez a ter uma realidade muito semelhante à de 2015 ou 2016."
Felipe Pathé Duarte avisa que um hipotético fim do atual conflito armado entre a organização palestiniana e o Estado de Israel não quer dizer que terminem as hostilidades.
"Mesmo que operação militar termine, o conflito não vai terminar e, portanto, nenhuma das soluções que poderá eventualmente ser apresentada no pós-invasão militar no pós-intervenção militar, nenhuma delas aponta para serenidade. Por outro lado, temos de considerar o efeito mimético deste tipo de atuação. Mais ainda, isto serve como uma causa que legitima a ação violenta na perspetiva de um jihadista ou de alguém que se extremou", considera.
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Relativamente ao Irão, parte que apoia a causa palestiniana contra Israel, o especialista em terrorismo acredita que não atuará da mesma forma como a Al-Qaeda ou o Daesh.
"Quanto à realidade xiita, talvez as coisas não funcionam desta forma tão orgânica, vamos chamar assim, porque na realidade xiita, para todos os efeitos, há uma representação política através da teocracia constitucional, que é o Irão. Portanto, esta possibilidade de haver alguém que atue por inspiração talvez não seja tão passível de acontecer no mundo xiita. O que pode eventualmente acontecer é o regime iraniano utilizar os seus proxys, controlados por si, para poder desencadear várias pequenas frentes e causar perturbação e caos não só nalguns espaços da Europa, mas essencialmente nos países em torno de Israel", afirma Felipe Pathé Duarte.