"Rezem por nós." Num Líbano que ainda não está "de pé", receia-se "outra catástrofe"
Egito e Líbano têm vivido o conflito entre o Hamas e o Estado israelita de forma diferente: ao passo que o primeiro tem visto a situação de uma forma mais tranquila, o segundo teme o pior. Ainda assim, para os dois países, o acolhimento de refugiados palestinianos parece estar fora de questão.
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O receio em relação a um possível alargamento da guerra vivida entre o Hamas e o Estado israelita têm extravasado as fronteiras. "Rezem por nós", é o apelo feito por Rita Dieb, uma das muitas portuguesas a viver em Beirute, que conta à TSF que o momento vivido é delicado. Ainda assim, no Egito, a crença de que o conflito deve ser resolvido "entre palestinianos e israelitas" prevalece, impedindo o meto de bater à porta.
"A comunidade libanesa, bem como a comunidade luso-libanesa também, está a olhar com alguma apreensão e inquietude para o desenrolar dos factos. Os principais receios são que a guerra escale em dimensões maiores e que também o Líbano seja envolvido nessa guerra", explica.
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Três anos depois da grande explosão no porto de Beirute, Rita, que vive há vários anos no Líbano, teme o pior.
"Ainda não nos conseguimos pôr de pé e já estamos a recear uma outra catástrofe"
O Governo libanês tem pedido cautela, mas esta portuguesa, que já foi advogada, sublinha que, tal como a sociedade, este é um Executivo dividido.
"Tal como o povo libanês, parte é a favor da intervenção do Hezbollah com as forças israelitas e outra parte é contra, mas penso que o próprio bom senso indica que nesta altura - aliás, não há nenhuma altura que seja conveniente para uma guerra -, mas, principalmente para o Líbano, nesta altura, eu penso que isto seria muito complicado", afirma.
Questionada sobre o eventual acolhimento de refugiados palestinianos, uma vez que o Estado faz fronteira com a Faixa de Gaza, Rita Dieb avança que, também nestes temas, os sentimentos se voltam a dividir.
"É um tema a abordar por aqui e, mais uma vez, volto a sublinhar: alguns a favor e outros contra", revela.
Num país polarizado, Rita Dieb regista o medo da guerra. No Líbano, vive-se um dia de cada vez e é, para já, o que nos pode contar.
"No fundo, é isto que se está a passar agora, hoje. Amanhã, não sei", remata.
"Isto não é um problema do Egito. Isto é um problema que tem de ser resolvido entre israelitas e palestinianos"
Já no Egito, o receio do alargamento do conflito israelo-palestiniano ainda não é uma realidade. Apesar da fronteira com Gaza, o Governo tem-se demarcado do problema.
"Há declarações do Presidente em relação a este conflito, numa entrevista escreveu com o chanceler alemão em que ele diz que isto não é um problema do Egito. Isto é um problema que tem de ser resolvido entre israelitas e palestinianos", explica Luís Costa, fotógrafo português que vive no Cairo.
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O fotógrafo esclarece, ainda, que, apesar de a população egípcia não ser insensível ao que está a acontecer com os palestinianos, também eles não os querem receber.
"Apesar de estarem solidários com o que passa em Gaza, no Egito não estão recetivos a receber refugiados da Faixa de Gaza, tanto ao nível dos líderes políticos, como ao nível da população em geral", afirma, acrescentando ainda que o Chefe de Estado egípcio também já deu a entender que se "os israelitas estão, de alguma forma, a pensar que, com esta pressão, os palestinianos terão de ir para a península do Sinai", então "estão enganados".
"Isso não vai acontecer e se realmente querem deslocá-los, que o façam para o deserto de Neguev", cita.
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Luís Costa aponta ainda que este sentimento tem um motivo: os egípcios temem que os palestinianos tragam problemas, ao contrário do que aconteceu com os sudanses, que foram bem recebidos no país.
"Em relação ao Sudão não houve qualquer problema. Terão chegado aqui perto de um milhão de sudaneses na sequência da recente guerra, já vivem cinco milhões de sudaneses aqui. Não houve qualquer problema", assegura, explicando que apesar de estes refugiados "trazerem alguma pobreza com eles", os egípcios não temem outro tipo de impasses.
"Em relação aos palestinianos não seria bem assim e esse é o sentimento geral", remata.