
As inspeções podem durar entre duas a mais de quatro horas
Autoridade Portuária da Ucrânia (arquivo)
Cada embarcação com destino ou origem em portos ucranianos teve de passar por uma inspeção conduzida por representantes das quatro partes do acordo.
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O último cargueiro que transportava cereais da Ucrânia no Mar Negro foi inspecionado na noite desta segunda-feira, em Istambul, poucas horas antes da suspensão do acordo entre a Rússia e a Ucrânia, anunciou a ONU.
"A inspeção da carga do [navio] TQ SAMSUN foi finalizada pelo Centro de Coordenação Conjunta" (JCC, na sigla em inglês), afirmou a entidade em comunicado, especificando que foi a 1972.ª realizada desde 1 de agosto de 2022 no âmbito da Iniciativa de Cereais do Mar Negro.
O cargueiro de bandeira turca "deixou no domingo o porto de Odessa, sul da Ucrânia, e chegou hoje [segunda-feira] ao local de inspeção a norte de Istambul, no Mar Negro", segundo o JCC, que foi responsável por supervisionar a implementação destes acordos assinados em julho 2022 entre a Ucrânia, Rússia, Turquia e Nações Unidas.
Cada embarcação com destino ou origem em portos ucranianos teve de passar por uma inspeção conduzida por representantes das quatro partes do acordo, que expira esta segunda-feira à meia-noite de Istambul (22h00 em Lisboa).
Numa declaração anterior, o JCC disse que as inspeções podem durar entre duas horas e mais de quatro horas.
Os ucranianos acusam regularmente os russos de prolongar deliberadamente o exame de navios de carga.
A Rússia opôs-se à extensão do acordo enquanto as suas exigências sobre o comércio dos seus próprios produtos agrícolas, prejudicadas pelas sanções contra os seus bancos, não forem atendidas, e denunciou esta segunda-feira a extensão do entendimento.
O acordo sobre os cereais ucranianos permitiu, apesar da guerra em curso na Ucrânia desde a invasão russa em 22 de fevereiro de 2022, colocar no mercado mais de 30 milhões de toneladas de cereais e produtos agrícolas.
Em reação, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, sustentou que, "mesmo sem a Rússia, tudo deve ser feito para usar este corredor" no Mar Negro.
"Não temos medo", disse, num comentário partilhado na rede social Facebook pelo seu porta-voz, Serguei Nykyforov.
A suspensão mereceu comentários do secretário-geral da ONU, António Guterres, a alertar que centenas de milhões de pessoas vão pagar pela decisão da Rússia de romper com o acordo.
O Presidente da Turquia afirmou, por sua vez, acreditar que o seu homólogo russo, Vladimir Putin, "quer manter" o acordo.
"Daremos passos nesse sentido, com um telefonema a Putin, sem esperar por agosto", declarou
O recuo de Moscovo em relação à prorrogação da Iniciativa dos Cereais do Mar Negro, que já vinha ameaçando caso não fossem atendidas as suas exigências, recebeu críticas contundentes da Comissão Europeia, e também de alguns dos principais aliados de Kiev, como os Estados Unidos, Comissão Europeia, Reino Unido Alemanha, França e Alemanha, alertando igualmente para o seu impacto em milhões de habitantes em países vulneráveis.