Quatro anos depois da declaração unilateral da independência, o Kosovo, vive ainda um frágil equilíbrio, ameaçado por memórias de guerra recentes e ódios antigos, onde o rastilho facilmente se desencadeia sob as tensões étnicas entre sérvios e albaneses.
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O Kosovo, uma terra empobrecida, onde os albaneses representam cerca de 90 por cento da população, declarou unilateralmente a independência no dia 17 de Fevereiro de 2008, depois do fracasso das negociações internacionais para se chegar a consenso sobre este território reivindicado pela Sérvia.
Este acto foi imediatamente reconhecido pelos Estados Unidos e pela maioria dos países europeus, mas a Sérvia, com o apoio da poderosa Rússia, manteve-se intransigente.
Quatro anos depois da autoproclamação, as tropas de manutenção da paz da NATO mantêm-se no terreno, com 142 militares portugueses, para vigiar uma reconciliação ilusória entre os albaneses e a minoria sérvia - que vive essencialmente no norte, em especial na cidade dividida de Mitrovica e no enclave de Strpce, no sul.
Dois dias antes deste quarto aniversário da independência, 99,74 por cento dos sérvios do norte rejeitaram em referendo, não reconhecido pela comunidade internacional, nem sequer por Belgrado, o governo central kosovar, com sede em Pristina.
Este referendo terá pouco impacto, mas pode incendiar as tensões étnicas numa região, que apesar dos esforços de aproximação entre os albaneses e a minoria sérvia o ódio é facilmente alimentado.
A zona de fronteira entre a Sérvia e o Kosovo, importante ponto de contrabando, é sensível e tem sido campo fértil para a violência. Em especial no norte, confrontos entre sérvios e tropas da força multinacional são recorrentes.
Ainda recentemente, a 15 de Fevereiro, frente à sede do parlamento em Pristina, centenas de albaneses kosovares contestaram a actuação da polícia do Kosovo nas manifestações do fim-de-semana contra a entrada de produtos sérvios no território.
Neste protesto, convocado pelo partido radical da auto-determinação, cerca de 50 pessoas ficaram feridas, 30 polícias, e 140 foram presas.
Este é o clima tenso que ainda se vive no Kosovo onde as feridas da guerra ainda estão por sarar. Entre 1996 e1999 o conflito entre separatistas de origem albanesa e o então governo central da República Federal da Jugoslávia aumentou.
Slodoban Milosevic, que era presidente do país na altura, seria posteriormente preso e acusado de crimes contra a humanidade pelo Tribunal Penal Internacional para a antiga Jugoslávia, acabando por morrer na prisão. Sob o argumento da protecção da população sérvia no Kosovo, o ditador foi acusado de ter procedido a uma limpeza étnica.
Nesta época os guerrilheiros do Exército de Libertação do Kosovo (ELK), que lutavam pela independência da província, intensificaram as acções contra alvos sérvios e passaram a controlar parte do território.
A NATO atacou a Jugoslávia a 24 de Março de 1999 para exigir que Slodoban Milosevic aceitasse o acordo de paz de Rambouillet, que previa a autonomia do Kosovo, a retirada das forças sérvias da região e a presença de tropas da Aliança Atlântica para promover a paz.
No terreno a guerrilha albanesa e as forças sérvias continuavam a confrontar-se, enquanto se formavam um grande número de refugiados de guerra que fugiam em direcção à Albânia, Macedónia e Montenegro, enquanto milhares morriam no conflito.
Depois dos bombardeamentos contra alvos sérvios, a 3 Junho de 1999, os líderes ocidentais e Milosevic chegaram a acordo para o fim da guerra.
As tropas sérvias retiraram do território e uma força internacional de paz da NATO, a Kfor, estacionou no Kosovo, tendo sido instaurado um Governo provisório sobre tutela da ONU.
Nessa altura os albaneses começaram a regressar ao território e cerca de 200 mil sérvios fugiram para a Sérvia por temerem represálias.