Nobel da Paz para iraniana detida: "O corpo está enclausurado, mas a mente ergue-se aos céus"
Mazgani, músico iraniano radicado em Portugal há várias décadas, afirma que esta distinção traz esperança ao Irão.
Corpo do artigo
Foi através da TSF que o iraniano Mazgani soube que a compatriota Narges Mohammadi tinha sido distinguida com o Prémio Nobel da Paz de 2023. E logo numa primeira reação, o autor de "The Gambler Song" sublinhou que esta é uma distinção que traz uma esperança renovada para o Irão. "É um prémio que dá muita esperança. Eu sei que a luta é desigual, o poder está muito blindado e inexpugnável. Mas sei que estas pessoas dedicam as suas vidas a algo maior que elas. E isso é uma grande lição para todos. Julgo que, um pouco da nossa aflição também se deve a este afastamento de algo maior que nós. Portanto, é com muita felicidade que recebo esta notícia. É importante este reconhecimento, é preciso que sintamos que o nosso trabalho tem ressonância. É para ter esperança e fé no futuro" adianta Mazgani.
TSF\audio\2023\10\noticias\06\mazgani_site
Narges Mohammadi ficou a saber que foi distinguida com o Prémio Nobel na prisão, depois de, em novembro de 2021, ter sido presa pelas autoridades do Irão. Narges Mohammadi foi detida depois de ter estado num evento em memória de uma vítima das manifestações violentas de 2019. O marido, Taghi Rahmani, que está baseado em Paris revelou que a ativista foi julgada em cinco minutos e condenada a prisão e a 70 chicotadas, acusada de espionagem para a Arábia Saudita, e proibida de comunicar e sem acesso a advogados. Nesta conversa com a TSF, Mazgani revela que Narges Mohammadi, apesar de estar presa, "não deixa de erguer a voz. Eu quando recebi a notícia estive a procurar e encontrei uma notícia de que ela estava a organizar cânticos dentro da prisão. Eu acho que esta é uma imagem poderosíssima, fortíssima, da pessoa ter essa liberdade de ter o corpo enclausurado mas a sua voz erguer-se aos céus. Essa imagem perdurará. E isso é a mudança, é a pessoa ter algo que ninguém lhe tira. Isso é uma grande conquista, é já por si uma grande conquista".
Por cá, o Irão é muitas vezes notícia, mas não pelas melhoras razões. Mazgani lembra que o Irão é um país com uma riqueza enorme, mas liderado por uma ditadura altamente repressora, ainda que, este prémio possa ajudar a trazer uma luz de esperança para os iranianos.
"O Irão é um país com uma história riquíssima, com uma cultura riquíssima, onde a poesia está em todas as casas, todas as pessoas sabem um verso ou dois, todos conhecem a sua história, todas as pessoas conhecem as grandes epopeias. Isto não é um primeiro passo. O que acontece é que essa cultura magnífica está soterrada por esta loucura. E este prémio não é um primeiro passo, é uma lembrança, necessária, de que eles não vão ganhar, e que essa luz vai prevalecer, e que essa cultura vai prevalecer. Talvez, por aqui, so recebamos essas notícias negativas. Mas o Irão é um país muito rico culturalmente, com uma tradição longuíssima. E isso vai prevalecer. É isso que eu acho que o prémio nos lembra. Mais do que um primeiro passo, é lembrar que existe uma outra coisa que está, infelizmente, soterrada, por esta opressão", adianta o artista do natural do Irão, que está radicado em Portugal desde a revolução iraniana de 1979, depois da família ter vindo para o nosso país como refugiada por serem bahá'ís, que eram perseguidos pelo regime imposto pelo fundamentalista de Ruhollah Khomeini.