Narges Mohammadi é uma ativista iraniana de direitos humanos e vice-presidente do Centro de Defensores dos Direitos Humanos.
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O Comité Nobel Norueguês anunciou esta sexta-feira que a ativista Narges Mohammadi é a vencedora do Prémio Nobel da Paz 2023. A iraniana tem sido uma defensora dos direitos das mulheres no Irão e é vice-presidente do Centro de Defensores dos Direitos Humanos, liderada pela também vencedora do Nobel da Paz em 2003, Shirin Ebadi, advogada iraniana dos direitos humanos.
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Berit Reiss-Andersen, presidente do Comité Nobel norueguês, em Oslo, afirmou que Mohammadi foi distinguida "pela sua luta contra a opressão das mulheres no Irão e pela sua luta para promover os direitos humanos e a liberdade para todos".
Mohammadi passou grande parte das últimas duas décadas a entrar e sair da prisão por causa da sua campanha contra o hijab obrigatório para as mulheres e a pena de morte. Ao todo foi "detida 13 vezes, condenada outras cinco vezes e sentenciada a 31 anos de prisão e 154 chicotadas".
A ativista e outras três mulheres estão na prisão de Evin, em Teerão, por terem queimado os seus hijabs para assinalar o aniversário da morte de Amini, a 16 de setembro.
O Irão ocupa o 143.º lugar entre os 146 países classificados no Fórum Económico Mundial em matéria de igualdade entre homens e mulheres. As autoridades iranianas reprimiram duramente a revolta "Mulher, Vida, Liberdade" no ano passado. Segundo a organização Iran Human Rights, 551 manifestantes, incluindo 68 crianças e 49 mulheres, foram mortos pelas forças de segurança e milhares de outras pessoas detidas.
O movimento prosseguiu sob outras formas e agora as mulheres podem sair a público sem o véu, algo que há um ano seria impensável, nomeadamente em Teerão e noutras grandes cidades, uma vez que o uso do hijab é um dos pilares da república islâmica. Desde então, as autoridades reforçaram os controlos utilizando câmaras de vigilância, entre outros meios, e prenderam atrizes que publicaram fotografias suas nas redes sociais sem o hijab.
O Comité Nobel norueguês, que atribui o Prémio Nobel da Paz, disse esperar que o Irão liberte a laureada para que possa estar presente na cerimónia de entrega do prémio, em dezembro.
"Se as autoridades iranianas tomarem a decisão certa vão libertá-la para que possa estar presente na cerimónia de entrega do prémio em dezembro", afirmou Berit Reiss-Andersen na conferência de imprensa após o anúncio.
"Realça a coragem das mulheres do Irão"
Em reação, as Nações Unidas afirmaram que a atribuição do Prémio Nobel da Paz a Narges Mohammadi é um tributo à coragem das mulheres iranianas face às represálias e ao assédio.
"Realça realmente a coragem e a determinação das mulheres do Irão e a forma como são uma inspiração para o mundo", defendeu Elizabeth Throssell, porta-voz do gabinete dos direitos humanos da ONU, em declarações aos jornalistas em Genebra.
A responsável da ONU sublinha que Narges Mohammadi é um símbolo das mulheres, das mulheres iranianas, que "têm sido assediadas pela sua forma de vestir e que sofrem com medidas legais e económicas cada vez mais limitativas".
A porta-voz da sede europeia das Nações Unidas, em Genebra, Alessandra Vellucci, acrescentou na mesma conferência de imprensa que a organização "apoiará sempre os direitos das mulheres em todo o mundo, incluindo as do Irão, nos locais onde são feitas tentativas de limitar seus direitos humanos".
A família vê a atribuição do prémio como um "momento histórico e profundo para a luta do Irão pela liberdade" e lamenta que Narges Mohammadi não possa desfrutar deste "momento extraordinário.
Na página de Instagram de Mohammadi, que a família gere enquanto está na prisão, os familiares escrevem que o prémio é uma honra para todos os iranianos, "especialmente para as mulheres e raparigas corajosas do Irão que cativaram o mundo com a sua bravura".
Na edição do ano passado, o atribuição foi para um ativista e duas instituições - o defensor dos direitos humanos bielorrusso Ales Bialiatski e as organizações russa Memorial e a ucraniana Centro Para as Liberdades Civis, responsáveis por denunciar crimes de guerra.
A semana começou com a revelação do vencedor do Nobel da Medicina, Física e Química, faltando conhecer-se o laureado pela distinção na área das Ciências Económicas, agendado para dia 9 de outubro (segunda-feira).
Os vencedores deste ano recebem um milhão de coroas suecas extra, elevando o valor total recebido pelos premiados para 11 milhões de coroas suecas (cerca de 925 mil euros).