Claudia Goldin vence Nobel da Economia pelos avanços para as mulheres no mercado de trabalho
A professora de Harvard é a terceira mulher a ser galardoada com este prémio.
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A norte-americana Claudia Goldin venceu o prémio Nobel de Ciências Económicas (Prémio Sveriges Riksbank de Ciências Económicas em Memória de Alfred Nobel) pelos avanços que fez relativamente ao papel das mulheres no mercado de trabalho.
A professora de Harvard, que é a terceira mulher a ser galardoada com o Nobel de Ciências Económicas, foi distinguida "por ter contribuído para a compreensão dos resultados das mulheres no mercado de trabalho", afirmou o júri da Academia Real Sueca de Ciências.
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"A investigação de Claudia Goldin deu-nos novas e muitas vezes surpreendentes perspetivas sobre o papel histórico e contemporâneo das mulheres no mercado de trabalho", afirmou a academia sueca.
As mulheres estão muito sub-representadas no mercado de trabalho mundial e, quando trabalham, ganham menos do que os homens, recordou a academia sueca.
Goldin pesquisou os arquivos e compilou mais de 200 anos de dados dos Estados Unidos, "o que lhe permitiu mostrar como e porquê as diferenças de género nos rendimentos e nas taxas de emprego mudaram ao longo do tempo".
A academia recordou que, "apesar da modernização, do crescimento económico e do aumento da proporção de mulheres empregadas no século XX, durante um longo período de tempo a diferença salarial entre homens e mulheres quase não diminuiu".
Segundo a laureada, parte da explicação reside no facto de as decisões educativas, que têm impacto nas oportunidades de carreira ao longo da vida, serem tomadas numa idade relativamente jovem.
"Se as expectativas das mulheres jovens forem moldadas pelas experiências das gerações anteriores (por exemplo, das suas mães, que só voltaram a trabalhar quando os filhos eram mais velhos), o desenvolvimento será lento", defende.
A academia sueca recorda que, historicamente, grande parte da diferença de rendimentos entre os géneros se explica pelas diferenças de educação e de escolha profissional.
"No entanto, Goldin demonstrou que a maior parte desta diferença de rendimentos se verifica atualmente entre mulheres e mulheres que exercem a mesma profissão e que surge em grande parte com o nascimento do primeiro filho", explica.
Durante o século XX, os níveis de educação das mulheres aumentaram de forma constante.
"A fase revolucionária" das mulheres no mercado de trabalho que ainda hoje "está em curso"
A professora da Nova SBE Susana Peralta conhece o trabalho de Claudia Goldin, um trabalho que identifica uma fase revolucionária das mulheres na economia.
"Claudia Goldin fala de uma fase já revolucionária a partir da década de 70, em que, no fundo, as mulheres começam a ganhar uma perspetiva relativamente à sua carreira, em que, por exemplo, a sua carreira é identitária, ou seja, as mulheres definem-se também pela sua carreira, começam a casar-se mais tarde. Claudia Goldin tem, por exemplo, trabalho importante relativamente aos contracetivos, que trouxeram esta possibilidade das mulheres se exprimirem na sociedade, além da economia doméstica e da economia do cuidado", afirma à TSF Susana Peralta.
A professora refere que, "como diz Claudia Goldin, a revolução ainda está em curso". "A questão do gap salarial entre mulheres e homens é uma questão desta fase revolucionária, porque antes a questão não se colocava, só quando as mulheres começam a ganhar esta identidade ligada à própria carreira e ganham esse nível de qualificação, que é hoje em dia até, em média, superior à dos homens, é que então se começa a colocar a questão", sublinha.
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No ano passado, os laureados foram os norte-americanos Ben Bernanke, Douglas Diamond e Philip Dybvig "pela investigação sobre bancos e crises financeiras".
O prémio de economia foi criado em 1968 pelo banco central da Suécia, é formalmente conhecido como o Prémio do Banco da Suécia em Ciências Económicas em Memória de Alfred Nobel e é o último Nobel a ser conhecido, depois do anúncio dos vencedores nas categorias de Medicina, Física, Química, Literatura e Paz.
Os vencedores deste ano recebem um milhão de coroas suecas extra, elevando o valor total recebido pelos premiados para 11 milhões de coroas suecas (cerca de 925 mil euros).
Os vencedores recebem também uma medalha de ouro de 18 quilates e um diploma nas cerimónias de entrega dos prémios, em dezembro, em Oslo e Estocolmo.
* Notícia atualizada às 12h13