"Números de emergência da embaixada não funcionaram." Português saiu de Israel por meios próprios
Ao contrário dos colegas de casa, um grego e uma francesa, o português David Nora tentou, sem êxito, contactar a embaixada portuguesa e, quando conseguiu, mais tarde, falar com um elemento do consulado, foi aconselhado a sair do país pelos próprios meios.
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David Nora morava perto do Knesset, o Parlamento israelita em Jerusalém, e no último sábado ,bem cedo de manhã, começou a ouvir as sirenes. Pensava que, como era habitual, as sirenes assinalavam um feriado judaico. "Viemos à varanda e vimos três rockets a cair no chão e outros a serem intercetados pela iron dome [a cúpula de ferro]", conta. "Entrámos em desespero e fomos para o bunker porque percebemos que era um ataque", adianta.
David, 29 anos, fez a licenciatura e mestrado na Universidade do Algarve e candidatou-se a um doutoramento de cinco anos em arqueologia na universidade hebraica. Vivia numa casa com mais dois colegas, um grego e uma francesa que, após perceberem a gravidade da situação, facilmente conseguiram contactar as autoridades dos respetivos países para perceber como deviam agir e quais os meios ao dispor para sair do país.
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No entanto, com a embaixada portuguesa tudo foi mais difícil. "As [embaixadas] deles automaticamente responderam e estavam a par da situação, os números de emergência da embaixada portuguesa não funcionaram durante todo o dia", garante David Nora, em declarações à TSF.
Mais tarde conseguiu um contacto com um elemento do consulado que o aconselhou a sair do país por meios próprios. "As diretrizes naquela altura eram que a prioridade era para os turistas", aponta.
"Quem era residente ou estudante com visto temporário teria de procurar os voos comerciais para sair de Israel e foi o que fiz, com a ajuda dos meus amigos em Portugal", revela. O estudante de doutoramento conseguiu um voo para Praga e só terá ligação para Lisboa na quarta-feira, dia 11.
"Custou-me os olhos da cara", afirma a rir. "Ao meu colega grego, a embaixada disponibilizou-se para pagar tudo", lamenta. Só ontem à noite, quando já tinha voo comprado e se encontrava no aeroporto de Ben- Gurion, o contactaram para dar a conhecer que um avião militar ia buscar portugueses.
"Disse para darem o meu lugar a outra pessoa", remata.
Quanto ao futuro, nos próximos tempos David Nora prefere manter o doutoramento em espera. Embora Jerusalém seja longe da zona mais perigosa do conflito, já ali chegaram rockets e vários locais foram bombardeados. "Quando ontem já estávamos no ar, o aeroporto de Ben-Gurion foi dado como alvo e hoje [segunda-feira] de manhã as imediações foram atingidas", conta.
Por esse motivo, o jovem não quer pensar por enquanto no regresso a Israel. "Para já não faz parte dos meus planos", assegura.