Presente nas plataformas cívicas que estão a um passo de governar Madrid e Barcelona, o Podemos poderá fazer pactos que lhe permitam gerir outras cidades importantes espanholas, como a Corunha, Saragoça, Cádis, Santiago ou Ferrol.
Corpo do artigo
O partido de Pablo Iglesias tinha tomado a decisão de não se apresentar com o nome do partido às eleições municipais de domingo, mas sim juntar-se às candidaturas de unidade popular que de alguma forma cumprissem com os seus princípios.
Foi assim em Madrid, com a plataforma Ahora Madrid, liderada pela ex-juíza Manuela Carmena (que poderá ser escolhida como "alcalde" caso consiga um acordo com o PSOE), e em Barcelona, onde a Barcelona en Comú, da ativista Ada Colau, foi mesmo a mais votada (ainda que necessite de acordos semelhantes para governar).
São as duas mais importantes cidades espanholas, mas o Podemos poderá também gerir outros municípios importantes como Saragoça (Aragão), Corunha, Santiago de Compostela e Ferrol (Galiza), Cádis (Andaluzia), San Fernando de Henares (Madrid). Nestes municípios, a "marca branca" do Podemos apenas precisa de saber negociar para participar na gestão camarária.
Na candidatura "Zaragoza en Común", liderada por Pedro Santisteve, o Podemos juntou-se aos comunistas da Izquierda Unida e obteve nove assentos, apenas menos um do que o PP. Os "populares" de Saragoça perderam cinco assentos face a 2011 e podem agora ver-se afastados da presidência. Santisteve pode ascender ao cargo, caso consiga os votos dos seis deputados municipais do PSOE e os dois da Chunta Aragonesista.
Como a Comunidade de Aragão também realizou no domingo eleições autonómicas, o PSOE de Aragão já afirmou hoje que está disponível para dar o apoio no município em troca da maioria absoluta no Governo regional. Mas o candidato do Podemos (aí sim, em nome próprio) para a Comunidade, Pablo Echenique, refreou as intenções dos socialistas, contrapondo que "será uma dura negociação".
Na Galiza, onde apenas haverá eleições autonómicas em 2016, o Podemos entrou em força em Santiago de Compostela e Corunha. A candidatura Compostela Aberta ganhou a votação, à frente do PP, mas precisa do PSOE e do Bloque Nacionalista Galego. Aqui a "marca branca" do Podemos custou cinco assentos aos populares e quatro aos socialistas.
Na Corunha, o Podemos apoiou a Marea Atlántica - com Xulio Ferreiro como cabeça de lista - que foi a mais votada, mas empatando em número de assentos (10) com o PP. Xulio Ferreiro terá de convencer o PSOE.
Em Ferrol, a plataforma Ferrol en Común (FeC) também pode ascender à liderança, mas terá de fazer um acordo a três: com o PSOE e com o BNG. Também aqui -- tal como em Madrid -- o PP fica a um deputado de conseguir maioria absoluta só com o Ciudadanos.
No sul, na Andaluzia (terreno feudo do PSOE, mas dominado localmente pelo PP), o Podemos fez mossa.
Em Cádis, a lista "Por Cádiz sí se puede", liderada por José María González "Kichi" pode acabar com 20 anos de hegemonia da "alcalde" do PP Teólifa Martínez.
À imagem da noite eleitoral um pouco por toda a Espanha, a candidata popular ganhou, mas ficou vulnerável aos pactos da esquerda. A plataforma 'Por Cádiz sí se puede' precisa assim do PSOE e dos comunistas da IU para formar uma gestão camarária a três.
Na Comunidade de Madrid, a plataforma 'San Fernando de Henares sí puede' (SFHSP) acabou com um mais feudo histórico, mas neste caso da Izquierda Unida, que passou de primeira a quarta força política.
Uma circunstância complica estas contas: a lei eleitoral espanhola. Ao contrário das autonómicas, nas municipais os partidos têm apenas uma votação camarária (para eleger a presidente) para aplicar eventuais acordos pós-eleitorais. Sem esse acordo logo na primeira votação, o candidato da lista mais votada assume a presidência.
Em declarações já hoje, Pablo Iglesias mostrou-se "disposto a fazer pactos", mas deixou claro que obrigará o PSOE a cedências substanciais. "Temos a mão estendida para falar, mas se o PSOE quiser entender-se connosco tem de dar uma volta de 180 graus e aceitar políticas sociais, destinadas às pessoas, aos cidadãos", disse o secretário-geral do Podemos.