Poupança de gás. "Espero sinceramente que não seja necessário impor metas obrigatórias"
Von der Leyen reconhece "grandes esforços de Portugal" para entregar gás à UE, mas precisa de "aumentar a capacidade" do porto de Sines.
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A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen alerta para a necessidade de os países europeus fazerem uma "poupança voluntária" de gás para garantir a "segurança energética" no próximo inverno.
Em entrevista ao Diário de Notícias, Von der Leyen destaca a importância do acordo fechado há menos de uma semana, a partir do qual cada estado-membro se propõe a alcançar 15% de poupança no consumo de gás natural, considerando que "trata-se de um passo decisivo" para fazer face "à ameaça de Putin de um corte total no fornecimento de gás"
"A Rússia cortou deliberadamente o abastecimento, parcial ou totalmente, a 12 Estados-Membros", afirma a presidente da Comissão Europeia, considerando que a União Europeia, no seu conjunto, "tem se preparar para mais perturbações, ou mesmo para um corte total do aprovisionamento de gás russo".
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A chefe do executivo comunitário expressa também o desejo de que a componente voluntária do plano nunca se torne definitiva. Mas, admite que no caso de a Rússia fechar completamente a torneira do gás para a Europa, a meta indicativa, venha a tornar-se obrigatória.
"Neste momento, o objetivo assenta nos melhores esforços dos Estados-Membros", refere na entrevista, salientando que a decisão sobre como atingir as metas "cabe a cada Estado-Membro".
"Só no caso de um corte total do gás russo e de uma grave deterioração da situação é que a meta se tornaria vinculativa, com base numa decisão conjunta dos Estados-Membros", adverte.
"Espero sinceramente que a evolução da situação e as ações dos Estados-Membros nos mantenham no bom caminho sem ser necessário impor metas obrigatórias", diz a presidente da Comissão ao DN, assegurando que a UE está "a dedicar todos os nossos esforços a este objetivo".
"Estou convencida de que o espírito de unidade e solidariedade que nos ajudou a enfrentar a pandemia é o mesmo que nos permitirá superar estas dificuldades", afirmou.
Diversificação
Von der Leyen afirma que o plano vai ao encontro "do princípio da solidariedade energética", consagrado nos Tratados da União Europeia, criando as condições para "proporcionar uma rede de segurança a cada Estado-Membro".
A presidente aborda ainda outra vertente em matéria de energia com o plano RePowerEU, que prevê, "em primeiro lugar, investimentos maciços em energias renováveis", como forma de assegurar a "independência", em relação ao gás russo, indo ao encontro dos objetivos climáticos de Bruxelas.
Von der Leyen afirma que, no âmbito da "diversificação dos aprovisionamentos", a União Europeia está agora "a virar-se para parceiros energéticos mais fiáveis".
"Já temos níveis recorde de entregas de gás natural liquefeito (GNL) proveniente dos EUA. E estamos a receber cada vez mais gás da Noruega, dos Estados do Golfo, da Argélia ou do mar Cáspio. É crescente o número de países que, em todo o mundo, intensifica a respetiva produção. E os resultados são visíveis", afirma.
"Durante o primeiro semestre de 2022, importámos mais 38 mil milhões de metros cúbicos de GNL e de gás transportado por gasodutos não provenientes da Rússia", aponta a presidente da Comissão, considerando que "este volume mais do que compensa a redução de 28 mil milhões de metros cúbicos no fornecimento de gás de gasoduto russo".
Fatura
Na entrevista, a chefe do executivo comunitário responde ainda sobre os instrumentos da Comissão Europeia para ajudar as empresas e as famílias a enfrentar o aumento da fatura da energia, admitindo que "a guerra energética da Rússia está a causar dificuldades às pessoas na Europa".
"No nosso plano de preparação, incentivamos fortemente os Estados-Membros a protegerem as pessoas vulneráveis, que são as mais afetadas pela escalada dos preços", afirma convicta de que ao serem adotadas medidas para reduzir a procura, "estamos a enviar um sinal forte aos mercados", o que "já deverá ter um efeito moderador sobre os preços".
Interligações
A presidente da Comissão é ainda questionada sobre a possibilidade de Portugal entrar na solução europeia para a escassez energética, através das ligações por gasoduto na fronteira de Espanha e de França.
Na resposta, Von der Leyen reconhece os "grandes esforços de Portugal e de Espanha" para entregar gás à União Europeia e admite que "a Península Ibérica no seu conjunto pode de facto tornar-se uma plataforma para o Gás Natural Liquefeito", proveniente de África e de todo o continente americano, mas Ursula von der Leyen considera que são precisas infraestruturas, e dá como exemplo o "aumento da capacidade" do porto de Sines.
"Sabemos que Portugal está a trabalhar no aumento da sua capacidade de transbordo de remessas de GNL, através do porto de águas profundas de Sines, para outros Estados-Membros, a fim de os ajudar a garantir um aprovisionamento suficiente de gás e, ao mesmo tempo, contribuir para os esforços de poupança de eletricidade e gás à escala da UE. Isto seria verdadeiramente a solidariedade europeia em ação", afirma.
"As interligações preparadas para hidrogénio permitirão que ambos os países se tornem exportadores de hidrogénio verde, contribuindo não só para a segurança do aprovisionamento a nível europeu, como também para os nossos objetivos climáticos comuns", disse Von der Leyen.