Apesar de a maioria ter acabado por retirar o vestido tradicional muçulmano, 67 estudantes recusaram, tendo sido obrigadas a voltar para casa.
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Um total de 298 alunas foram esta terça-feira para os estabelecimentos de ensino, no primeiro dia do ano letivo, vestidas com a abaya muçulmana, peça de vestuário feminina proibida pela primeira vez nas escolas de França.
O número foi divulgado pelo ministro da Educação, Gabriel Attal, que, em declarações ao canal de televisão BFM, disse que as escolas francesas iniciaram hoje "uma fase de sensibilização, de pedagogia e de diálogo", sobre a questão do uso da abaya.
Apesar de a maioria ter acabado por retirar o vestuário, 67 recusaram, tendo sido obrigadas a voltar para casa.
O Governo anunciou no mês passado que ia proibir a abaya nas escolas, alegando que violava as regras do laicismo na educação, que já proibiram os lenços de cabeça muçulmanos por constituírem uma manifestação de crença religiosa.
O ministro da Educação disse ainda que assinou uma carta dirigida às famílias das alunas que voltaram a casa a "explicar que a laicidade não é um ato de coação".
O governante promete ainda um "novo diálogo" se alguma destas raparigas voltar à escola com a abaya.
A abaya é um vestido tradicional muçulmano que cobre as mulheres da cabeça aos pés.
Vozes conservadoras, como o líder do partido Os Republicanos, Eric Ciotti, apoiaram a medida, ao passo que outros políticos, como Eric Zemmour, da extrema-direita, afirmaram que é "um bom primeiro passo", mas instaram a que se continue a avançar, por exemplo para a "generalização" da obrigatoriedade de uniforme.
O Partido Socialista, por seu lado, lamentou que o início do ano letivo fique ensombrado por um problema que considera, em todo o caso, menor, mas, para Jean-Luc Mélenchon, de A França Insubmissa (LFI), trata-se de "uma nova guerra religiosa absurda", travada de forma "artificial".
Na segunda-feira, o Presidente Emmanuel Macron defendeu a medida controversa, afirmando que existe uma "minoria" em França que "sequestra uma religião e desafia a república e o laicismo", levando às "piores consequências", como o assassínio, há três anos, do professor Samuel Paty por mostrar caricaturas de Maomé durante uma aula de educação cívica.
"Não podemos atuar como se o ataque terrorista, o assassinato de Samuel Paty, não tivesse acontecido", disse numa entrevista ao canal do YouTube HugoDecrypte.
Uma associação que representa os muçulmanos apresentou uma moção no Conselho de Estado, o mais alto tribunal francês para queixas contra as autoridades estatais, pedindo uma injunção contra a proibição da abaya e do qamis, o seu equivalente para os homens.
A moção da Ação para os Direitos dos Muçulmanos (ADM) deverá ser analisada esta terça-feira.
Uma lei introduzida em março de 2004 proibiu "o uso de sinais ou trajes através dos quais os alunos manifestam ostensivamente uma filiação religiosa" nas escolas.
Ao contrário dos lenços, as abayas ocupavam uma zona cinzenta e não tinham sido objeto de uma proibição total até agora.