Reunião do Conselho de Segurança da ONU boicotada contra russa com mandado de detenção
Maria Lvova-Belova foi a escolhida pela missão russa para falar num encontro dedicado às crianças em zonas de conflito.
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Há vários países a boicotar, esta quarta-feira, a primeira reunião do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) presidida pela Rússia.
Numa tarde de trabalho dedicada ao tema das crianças em zonas de conflito, a representação de Moscovo escolheu como interveniente a Comissária Presidencial dos Direitos das Crianças, Maria Lvova-Belova, que é alvo de um mandado de captura emitido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI).
Os Estados Unidos da América e o Reino Unido decidiram não enviar diplomatas à reunião e já bloquearam a transmissão da reunião do Conselho de Segurança até terem a garantia de que Belova não intervém, justificando a decisão com a recusa em divulgar "propaganda russa".
"Se ela quer prestar contas pelos seus atos, que o faça em Haia", sede do TPI, indicou um porta-voz da missão britânica citado pela agência France-Presse (AFP).
A reunião pretende "fornecer informações objetivas sobre a situação das crianças na zona de conflito no Donbass e sobre as medidas tomadas pelas autoridades russas para retirar crianças em perigo", segundo a representação permanente russa, que acusa o Ocidente de "distorcer" a situação utilizando os termos "abduções, deslocamentos forçados, adoções".
As autoridades ucranianas acusam a Rússia de ter "sequestrado" mais de 16 mil crianças da Ucrânia desde o início da ofensiva há um ano e o TPI emitiu um mandado de detenção histórico, em março, contra Vladimir Putin e Maria Lvova-Belova, considerando-os responsáveis pelo "crime de guerra de deportação ilegal" de menores ucranianos.
O embaixador russo na ONU, Vasily Nebenzia, assegurou recentemente que a reunião de hoje foi planeada "muito antes" do anúncio do TPI.
Moscovo afirma ter "salvado" estas crianças dos combates e ter implementado procedimentos para reuni-las com as suas famílias.
Em conferência de imprensa realizada esta terça-feira, a comissária russa para a infância mostrou-se disposta a devolver à Ucrânia crianças deportadas, se as respetivas famílias o solicitarem.
Maria Lvova-Belova garantiu que não foi contactada por "qualquer representante do poder ucraniano" a propósito das crianças deportadas desde o início da guerra e convidou os respetivos pais a escreverem-lhe uma mensagem de correio eletrónico.
"Escrevam-me (...) para encontrarem a vossa criança", declarou a responsável russa.
Por sua vez, o Conselho dos Direitos Humanos da ONU exigiu esta terça-feira à Rússia que autorize organizações internacionais a visitar crianças e outros civis "deportados à força" da Ucrânia para territórios controlados por Moscovo.
"[A Rússia tem de] parar com a transferência forçada e ilegal e com a deportação de civis e de outras pessoas protegidas no interior da Ucrânia [para o leste] ou para a Federação Russa (...), em particular crianças, incluindo as que estão institucionalizadas, desacompanhadas e/ou separadas", lê-se numa resolução aprovada em Genebra com 28 votos a favor, 17 abstenções e dois votos contra (China e Eritreia).