Rússia inclui procurador do Tribunal Penal Internacional na lista dos "mais procurados"
Ministério russo do Interior não menciona, no documento emitido, qual é o crime cometido por Karim Khan.
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O procurador-geral do Tribunal Penal Internacional (TPI), Karim Khan, foi colocado na "lista de mais procurados" da Rússia, segundo o Ministério do Interior russo, dois meses depois de o TPI ter emitido um mandado de captura contra Vladimir Putin.
"Data de nascimento: 30 de março de 1970. Local de nascimento: Edimburgo, Escócia [...] Procurado ao abrigo de um artigo do código penal", diz um aviso emitido pelo Ministério russo do Interior, sem especificar a natureza do crime.
Em declarações à TSF, o especialista em Política Internacional Germano Almeida assinala que este é um episódio que "mostra como estamos num mundo de inversão", mas que "resulta".
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O comentador do programa "O Estado do Sítio" assinala haver "muita gente que, estando preocupada com esta guerra, mas não estando totalmente a par, estabelece falsas equiparações", no caso a de que "sim, o TPI mandou um mandado de detenção contra Putin, mas a Rússia fez isso ao procurador-geral do TPI".
"Faz lembrar um pouco o dia 21 de fevereiro do ano passado, no pré-aniversário de guerra. No mesmo dia, Putin faz um longo discurso em Moscovo, completamente delirante e invertendo tudo, e o Presidente Biden faz um discurso em Varsóvia com que se pode discordar ou concordar em algumas coisas, mas que no essencial vai ao ponto certo", e que gerou conversa sobre uma "posição em espelho, em que um disse uma coisa e o outro disse uma coisa contrária".
Germano Almeida sublinha que embora isso seja "certo", as mensagens foram transmitidas "em planos diferentes de seriedade, digamos assim, e neste mundo tão difuso, a nível comunicacional, é mesmo importante manter o foco sobre aquilo que verdadeiramente está a acontecer, e o que está acontecer é uma guerra de agressão assimétrica em que um país quis invadir outro sem qualquer razão para isso".
O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, é acusado pelo TPI, com sede em Haia, nos Países Baixos, de crimes de guerra pela "deportação ilegal" de milhares de crianças ucranianas durante o conflito entre Moscovo e Kiev.
As acusações são rejeitadas por Moscovo.
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, considerou então "histórica" a decisão do TPI, enquanto o homólogo norte-americano, Joe Biden, a classificou como "justificada".
No entanto, Moscovo considerou-a "nula e sem efeito" porque a Rússia não é membro do TPI e, por conseguinte, não reconhece a jurisdição do tribunal, segundo o Kremlin.
Poucos dias após o anúncio, em meados de março, do mandado emitido pelo Tribunal Penal Internacional, Moscovo abriu um inquérito criminal contra Karim Khan e três juízes do TPI.
Segundo a investigação russa, Karim Khan é acusado de "iniciar um processo penal contra uma pessoa notoriamente inocente" e de "preparar um ataque contra um representante de um Estado estrangeiro".