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A última semana acentuou a discussão sobre o futuro da política portuguesa e a sua crescente polarização. No centro e direita o debate, e o risco é ver a construção e apresentação aos portugueses de uma alternativa política ser totalmente dominada, e contaminada, pelo debate sobre o Chega. Sendo essa a minha área política e tendo-me oposto a qualquer acordo com o Chega, acho que os últimos dias vieram demonstrar uma das razões para essa minha oposição. Abrir essa porta é deixar que as hipóteses, condições e consequências de um tal acordo passem a dominar o debate sobre a alternativa à atual maioria. Quer o Chega - que cresce e é valorizado com esse papel - quer o Partido Socialista - que ganha espaço no centro - tiram partido disto e, por isso mesmo, o promovem.
Se o Chega for fundamental para uma qualquer maioria parlamentar serão o Chega e o PS que terão de assumir as responsabilidades decorrentes de não permitirem viabilizar qualquer governo num tal quadro parlamentar.
Quer no plano dos princípios, quer no plano da estratégia, não parece inteligente o PSD abrir qualquer porta, janela ou fresta a um acordo com o Chega. A única coisa boa resultante das mais recentes provocações e comportamentos de André Ventura e do Chega é demonstrarem que, não apenas o Chega não muda, como, para usar a linguagem de André Ventura, será ainda mais radical. Está na altura dos outros partidos do centro e direita fecharem, definitivamente, a porta a qualquer acordo com o Chega. Só isso eliminará o ruído que lhes permitirá concentrar-se em apresentar ao país uma alternativa à maioria de esquerda. Para aqueles que temem o que pode vir a suceder em caso de esta alternativa moderada vir a vencer as próximas eleições, mas sem ter maioria parlamentar, a minha resposta é simples. Se o Chega for fundamental para uma qualquer maioria parlamentar serão o Chega e o PS que terão de assumir as responsabilidades decorrentes de não permitirem viabilizar qualquer governo num tal quadro parlamentar. Se Chega, PS e os outros partidos de extrema-esquerda se coligarem para trazer tal ingovernabilidade ao país os portugueses saberão tirar as conclusões certas.
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Já devíamos ter percebido que não são, sobretudo, as leis, mas sim o sucesso e competitividade das empresas, que criam e garantem o emprego.
Isto permitirá ao PSD assumir a posição de força moderada do regime num contexto em que, na mesma semana, António Costa confirmou a sua preferência por uma polarização à esquerda. Para isso, parece até disponível para oferecer aos partidos à sua esquerda as alterações à legislação laboral que estes tanto desejam. Temo o pior. Não é que não existam alterações necessárias a fazer para adaptar a nossa legislação às novas formas de organização económica e do trabalho, mas, atendendo ao histórico destas forças políticas, o mais provável é que se volte a introduzir forte rigidez no mercado de trabalho.
Talvez fosse bom, antes de avançarem para a reforma, o Ministro socialista, gestor da TAP, falar com o Ministro socialista legislador laboral...
Já devíamos ter percebido que não são, sobretudo, as leis, mas sim o sucesso e competitividade das empresas, que criam e garantem o emprego. O Ministro Pedro Nuno Santos descobriu isso, recentemente, quando tomou conta da TAP e, confrontando com a realidade da empresa, veio dizer que não tinha alternativa a centenas de despedimentos para salvar os outros postos de trabalho. Talvez fosse bom, antes de avançarem para a reforma, o Ministro socialista, gestor da TAP, falar com o Ministro socialista legislador laboral...