"Era importante que António José Seguro, como fez Mário Soares em 1986, ocupasse o espaço do centro-esquerda"
A corrida a Belém foi tema n'O Princípio da Incerteza. Alexandra Leitão considera que Seguro deve clarificar a agenda tendo em conta o apoio do PS, Pacheco Pereira diz que o próximo Presidente terá um mandato num período de "dureza", algo que não reconhece em Seguro ou Marques Mendes, e Pedro Duarte coloca Ventura e Gouveia e Melo no lote dos candidatos "imprevisíveis"
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Alexandra Leitão defende que Antonio José Seguro devia posicionar-se no espaço de centro-esquerda à semelhança de Mário Soares, nas eleições de 1986. A corrida a Belém subiu a debate n'O Princípio da Incerteza, da TSF e da CNN Portugal, e a socialista considera que Seguro deve clarificar a agenda em linha com o apoio que recebeu do PS.
"Eu diria que o lugar do centro-esquerda é o lugar natural de António José Seguro, até enquanto candidato apoiado pelo Partido Socialista. Às vezes, em algumas respostas, António José Seguro passa uma imagem contraditória a quem se considera um eleitor de centro-esquerda. Era importante que António José Seguro, como em 1986 fez Mário Soares, ocupasse o espaço do centro-esquerda, que é o seu espaço natural e de uma forma clara. De uma forma moderada, afirmando e abrindo as portas a todos os apoios que possa ter, mas mostrando clareza nessa agenda", argumenta.
Sobre a candidatura de André Ventura, Alexandra Leitão afirma que o candidato e líder do Chega nunca será eleito Presidente da República, com base na alta taxa de rejeição.
"Ventura não tem nada a perder em apresentar-se. Mesmo sendo quase certo que não ganhará, porque a sua taxa de rejeição é tão elevada que, em princípio, seja quem for o candidato que passe à segunda volta com Ventura, poderá granjear uma votação nem que seja pela rejeição a Ventura, mas a verdade é que se passar à segunda volta já é um ótimo resultado para André Ventura. Se não passar à segunda volta não é um bom resultado, mas depende da percentagem que tenha", refere a socialista, sublinhando que o líder do Chega "não quer ser Presidente da República".
"Ventura vê nisto um momento mais na sua afirmação para o percurso do que ele quer ser, que é primeiro-ministro, espero que isso não aconteça", atira.
Já Pacheco Pereira nota que o próximo Presidente terá um mandato num período de "dureza", qualidade que não reconhece em António José Seguro ou Luís Marques Mendes.
O historiador prefere um Chefe de Estado civil: "A conquista da democracia em Portugal termina, de alguma maneira, com a eleição de Mário Soares, em 1986, o primeiro Presidente civil. Isso para mim é um fator relevante."
Pacheco Pereira admite ser "amigo" de Marques Mendes, que tem "muitas qualidades". "Não sei se ele está assim tão preso a esse apoio, mas a verdade é que estamos num período em que precisamos de pessoas com alguma dureza, isso é um dos elementos que eu terei em conta", afirma.
Questionado sobre o conceito de "dureza", Pacheco Pereira frisa que "este tempo não está para brincadeiras". "Dureza em vários aspetos, que têm a ver com os poderes presidenciais, com o papel do Presidente da República na política externa, com o combate a todas as tentativas de desvirtuar o sistema constitucional, o sistema democrático, que estão em cima da mesa. A tentativa, por exemplo, de transformar o Tribunal Constitucional, a tentativa de alterar a própria Constituição e o Presidente tem de ser muito claro e traçar umas linhas vermelhas."
Por outro lado, Pedro Duarte coloca André Ventura e Gouveia e Melo no lote dos candidatos "imprevisíveis" pela falta de garantias que apresentam.
"Nós não sabemos o que esperar deles se eventualmente chegarem à Presidência da República. André Ventura, por aquela oscilação mais populista que já lhe conhecemos - e não é por falta de conhecimento da personalidade -, mas é por sabermos que ela é errática do ponto de vista comportamental. Do ponto de vista do ex-almirante, é essencialmente porque não conhecemos o seu pensamento político em matéria nenhuma. Há uns textos escritos já enquanto candidato, mas não sabemos sequer muito bem por que razão é que eles surgem e são profundamente vagos", considera.
O social-democrata diz que a candidatura surge "de uma forma oportunista, a tentar ocupar um espaço que seria o espaço natural do Chega". Para Pedro Duarte, "esse espaço foi ocupado com a candidatura de André Ventura e ele [Gouveia e Melo] rapidamente parece que se tornou uma personalidade de centro-esquerda".
"Ora, isto não dá garantias. Alguém que se move em função do vento estar a soprar mais para a esquerda ou para a direita não é aquilo que se deseja para um Presidente da República", remata.
